Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

domingo, julho 30

O Marujo que não perdeu as graças do mar

Ler o Miguel, ler sempre o Miguel
|| asl, 16:10 || link || (2) comments |

sábado, julho 29

chegaram os figos

dos verdes. brancos. frios. gelados. com presunto. i'm in heaven. e sem links, senão linkava aqui a resposta do rap (gato fedorento) a quem lhe quis puxar as orelhas por se meter com o pacheco pereira. e olha quem, efectivamente.
|| f., 17:16 || link || (0) comments |

sexta-feira, julho 28

os dire straits seguem dentro de momentos, parte 2

a resposta à dúvida abaixo pelo diário ateísta.
|| f., 20:25 || link || (0) comments |

straitezas

e será, nuno, que o presidente aprecia os dire straits, ou, ao contrário da famosa frase, tem agora também dúvidas sobre isso?

e tu, hã?

(a franqueza agradece-se e a justificação acolhe-se. julgo aliás ser próprio dos snippers isso de disparar ao mínimo movimento, de modo que. e inocência, inocência, hum, acho que se acabou. posso ir ver ao armazém, mas ia jurar que já não se fabrica. e bem: era um bocado foleira)
|| f., 18:13 || link || (1) comments |

O sr. Presidente...

... andou hoje muito ocupado e fez um despacho deveras curioso.
O social-democrata Cavaco Silva promulgou um decreto-lei do Governo do socialista José Sócrates sobre a Fundação da Colecção Berardo, mas, ao mesmo tempo, admitiu que tinha dúvidas sobre o ditu cuju.
Parece ser uma nova moda em Belém: promulgar leis e publicitar as reservas. Já tinha feito coisa idêntica com a lei da procriação medicamente assistida.
Vamos ver o que acontece com a Lei da Paridade, que vai na sua segunda versão por causa do veto do Presidente, mas, por este andar, o PS ainda vai criar uma comissão de apoio à recandidatura de Cavaco a Belém...
|| portugalclassificado, 17:49 || link || (1) comments |

Fiquem todos a saber...

... que hoje foi nomeado um embaixador de Portugal... na Eritreia. Estranho? Pode ser, mas é verdade. Chama-se Luís João de Sousa Lorvão e é ministro plenipotenciário de 2.ª classe.

Ler aqui.

A decisão é do sr. Presidente da República... que hoje andou muito ocupado...
|| portugalclassificado, 17:44 || link || (0) comments |

os dire straits voltam dentro de momentos

vital moreira, sobre maniqueísmos, no causa nossa, e a obrigação moral dos estados democráticos. só uma dúvida: israel será mesmo 'um estado étnico e confessional'? (e é mesmo uma dúvida, como se pode ver aqui).
|| f., 17:21 || link || (0) comments |

one way or another



e pronto. lá deixei cair o ovo fabergé ao chão. agora só com os próximos 2500 euros (limpos ou sujos, i may ask?). mas afinal se não interessa nada se se gosta ou não de dire straits, porquê isto?

já que estamos numa de berços musicais, porém, eu é mais blondie e pretenders. a debbie harry e a crissie hynde foram o meu mark knopfler (espero que elas não me processem por isto). com a vantagem de ainda hoje gostar delas. vi a debbie ao vivo em lisboa, em 1998, na então expo, e quase fiquei em lágrimas quando vi que ela dança o atomic exactamente como eu sempre o dancei. e quando olho para a capa de parallel lines, de 1978 (salvo erro) percebo que esta mania de pôr as mãos nas ancas, usar socas de madeira e vestidos de alças e de um modo geral ter 'an attitude' pode muito bem ter vindo dali. e da crissie, mais a mania do eye liner, do cabedal e de ser especial -- 'cause I

'm gonna make you see

there's nobody else here

no one like meeee

cause i'm special, so special

gotta have some of your attention

giiiiive it to meeeeeeee'.
|| f., 16:22 || link || (2) comments |

o rio livre, versão net, pago por todos nós

pacheco pereira tem razão: isto é inadmissível.
|| f., 16:10 || link || (0) comments |

eu sou gisberta

esta frase, que usei hoje num dos textos contra os canhões do dn (o que não está linkável, sei lá eu porquê), é daqui. respirem este ar: recomenda-se.
|| f., 16:02 || link || (0) comments |

knopfler para ti também

em desespero -- mas sempre, claro, mantendo a serenidade -- o joão pôs agora, ao vivo e a cores (ou seja, do outro lado da secretária), uma hipótese que já se me tinha assomado ao meu (pobre, claro) espírito: e se o mark knopfler fosse judeu?
|| f., 15:55 || link || (0) comments |

in dire straits, mesmo, mas prontoS

já percebi, como explica o ivan, que corro grandes riscos. mas não resisto: o ricardo araújo pereira voltou às postas (salvo seja) e esta é impagável.

e sobre o mark knopfler, hum?
|| f., 15:53 || link || (0) comments |

dire ou straits?

concordo contigo, joão. é de facto incrível como certas pessoas fervem tão pouquinha água (ainda que nunca tenha percebido esta expressão -- quanto menos é a água mais depressa ferve)e perdem a serenidade.

mas vamos ao que interessa: de que lado estás quanto ao mark knopfler?
|| f., 15:44 || link || (0) comments |

quinta-feira, julho 27

prontoS

a partir de agora, neste blogue só se discutem os dire straits.
|| f., 18:39 || link || (0) comments |

Luíses

O Luís Delgado apareceu referido na caixa de comentários da Natureza do Mal como a encarnação do Mal. Eu sei que o Luís está habituado a ser o bombo da festa e imensas vezes alvo d enormes injustiças. Sei qual a posição do Luís Delgado mas também sei que, neste conflito, o Luís Delgado será sempre, e de longe, uma pessoa muito mais moderada que o Luís Januário. E que nunca terá ataques de andar a chamar anti-semita e conivente com os Hezbollahs a quem ponha em causa esta guerra. (O cúmulo da estapafúrdice é que, há bocado, Vital Moreira viu-se obrigado a justificar que o Hezbollahs e o Hamas não lhe merecem qualquer simpatia). Como diria o Barthes, alguma linguagem (nomeadamente esta que tem sido utilizada) é fascista, quando obriga a dizer.
|| asl, 17:12 || link || (2) comments |

agora para o nuno (apre, que isto é uma trabalheira)

caro nuno. 'subscrição velada de qualquer iniciativa bélica'? favor ver conversa com o bruno, no post anterior.

quanto ao resto: não estou certa de ter percebido as aspas nos terroristas. não estou certa de que não haja causas pelas quais vale a pena -- ou é necessário -- matar. a legítima defesa, por exemplo. mas cada um é livre de ser mártir do que entender.

além disso, se o hamas e o hezbollah são criaturas de israel, israel, como o conhecemos, não será também criatura de alguém (e não me refiro, desta vez, aos nazis e à má consciência mundial)?

'israel tem direito a viver em paz', dizes tu. óptimo. e a paz faz-se com o outro lado. melhor ainda. o massacre sem fim devia parar, devia, claro. mas por que motivo falas disto tudo como se tudo isso -- a paz, o fim do massacre, o fim dos ataques -- dependesse dos israelitas? por que falas como se o objectivo declarado dos israelitas fosse apagar os palestinianos e os países limítrofes da face da terra, quando sabes que o contrário é um objectivo confesso há mais de cinquenta anos?

para terminar: é óbvio que se se provar que os israelitas bombardearam deliberadamente a onu se trata de um crime de guerra. é óbvio que os israelitas cometem crimes de guerra. e é óbvio que bombardear áreas civis é horrível. e se faz em todas as guerras. nomeadamente nas de guerrilha (não sei se viste uma reportagem do josé rodrigues dos santos, que enquanto circulava numa área residencial de, julgo, tiro, foi abordado várias vezes pelos hezbollahs armados, que o mandaram embora. não te faz pensar?).

enfim. estava-se mesmo a ver que quando eu disse que não queria mais falar deste assunto estava em self denial.
|| f., 16:42 || link || (0) comments |

ah, eu também

esqueci-me de acrescentar que o apreço é mútuo, bruno.
|| f., 16:38 || link || (0) comments |

coisas simples

não, bruno. e sim, bruno.não concordo que a existência do estado de israel não seja a questão -- é sempre a questão, nesta história. basta ouvir o que dizem os hezbollahs e os hamas, mas também, de um modo geral, todos os palestinianos, jordanos, iranianos e sei lá mais o quê (sabias que em algumas notas, hoje, do dinheiro da jordânia, a imagem que está estampada é a da cúpula dourada da mesquita da rocha, em jerusalém, como se fizesse parte do país?)tal como me parece óbvio que a sua existência pressupõe -- tem pressuposto desde o início -- um estado de guerra permanente.

a questão será assim, em primeiro lugar: porque é que a existência de israel pressupõe guerra permanente? porque é que achamos normal que toda a gente em israel faça tropa? porque é que achamos normal que cada israelita, seja judeu ou árabe ou outra coisa qualquer, saiba que pode explodir no autocarro ou na pizzaria ou na bicha do cinema em qualqur dia da semana? porque é que achamos normal que em israel se viva no sentimento de cerco permanente?

é disso que falo quando falo de programa bélico. israel existe ainda porque, como tu dizes, tem um poderio bélico 'superior'. existiria se não o tivesse?
existiria se não fosse uma sociedade militarizada? existiria se não desse mostras desse poderio e se não o usasse? existiria se não fosse mais rápido a disparar e não mantivesse o dedo permanentemente no gatilho?

mas é claro que, isto dito, posso discutir e discuto e sempre discuti tudo o resto. discuto os territórios ocupados e a forma como essa ocupação trata os habitantes palestinianos, discuto os colonatos, discuto os governos, discuto os discursos, discuto os crimes de guerra, discuto o tratamento dos prisioneiros, discuto os raides sanguinários, discuto a indignidade dos check points, discuto o estatuto de jerusalém.

discuto o orgulho selvagem dos israelitas, a forma como tratam quem julgam que não está por eles, a agressividade com que falam a quem eles julgam ser judeu e não viver em israel, e a atitude de eterna cobrança que acalentam em relação ao mundo.

discuto a mitologia. até discuto a identidade judaica. posso discutir tudo. mas, como diz cohen, when it all comes down to dust, se eu tiver de escolher, eu escolho. já escolhi. ou, se calhar, escolheram por mim.
|| f., 16:07 || link || (0) comments |

os pormenores

ó joão. tá calor, tá. e para aqueles lados deve estar ainda mais. do clima, das bombas, da falta de electricidade para o ar condicionado e para as bebidas frescas, da busca de corpos nas ruínas, da fúria e do desespero, dos coletes à prova de bala e dos tanques, do peso da m16 e dos lança rockets. questões de pormenor, certamente -- mas por menos que isso, só um golpe de sol na faca, o estrangeiro matou o árabe. os cure fizeram o seu primeiro single sobre isso: killing an arab.

não sei se o tal de antisemitismo também pode ser assim uma questão momentânea cegueira. no outro dia, almocei com uma pessoa que muito prezo e cuja exigência moral reputo de altíssima. a dada altura,disse-me: 'mas não acha que é estranho os judeus terem problemas em todo o lado? alguma coisa eles devem ter'.

disse-me depois que era uma provocação. eu, que gosto de provocações, fiquei na dúvida.

quando vejo tanta gente -- como tu, joão -- dizer coisas como 'para o estado de israel questões de pormenor, quando se trata de matar, costumam ser de grande irrelevância' e falar de 'eles' para depois fazer uma graça com a exaltação anti-semita não posso deixar de pensar que há pormenores, nomeadamente discursivos, que são todo um programa.
|| f., 15:44 || link || (0) comments |

Gostos

Mas não há então ninguém que goste dos Dire Straits?
|| asl, 14:29 || link || (2) comments |

Discossom

Chamava-se assim a discoteca de uma cidade pequena da Roménia onde me lembro de ver os primeiros LPs dos Dire Straits. Amava Knopfler e a guitarra. Quando cheguei a casa na segunda-feira à noite já era tão tarde que só vi as últimas palavras MARK KNOPFLER. Podia ter chorado em cima do Love Over Gold da Roménia, como o outro do Adeus Lenine nas latas de comida da RDA.
|| asl, 14:17 || link || (1) comments |

Claro que está tudo doido

Está tudo doido, Bruno, claro que está.
|| asl, 14:16 || link || (0) comments |

quarta-feira, julho 26

A dúvida é uma duas principais aquisições de quem não tem metanarrativas

diz o tiago.a ler
|| f., 22:17 || link || (0) comments |

isto já me começa a empecer

esta teoria e que os quatro observadores da onu teriam sido mortos de propósito pelos israelitas está a entusiasmar imenso algumas pessoas. é óbvio que a coisa que mais convém ao estado de israel, neste momento, é matar gente da onu.

ah, e quem diz 'impecillo' são os espanhóis. nós cá no burgo dizemos empecilho. (e esta fui confirmar no dicionário -- eu tento aprender com os meus erros e, já agora, os dos outros)
|| f., 17:14 || link || (0) comments |

nuno ramos de almeida, tu escreveste mesmo isto?

refiro-me a isto.é que, a ser assim, à loucura que o vicente diagnosticou nos eduardos serei obrigada a aglutinar a dos nunos.
|| f., 16:10 || link || (0) comments |

morrem mais de mágoa, outra vez

mais uma catrefada de texto, desta vez de há 14 anos, de uma reportagem efectuada em fevereiro de 1992 sobre israel e a palestina para a grande reportagem (da qual já postei aqui um excerto sobre uma conversa com amos oz). a reportagem tinha o nome de um livro de saul bellow -- more die of heartbreak, traduzido para 'morrem mais de mágoa'. este excerto resultou de uma incursão no sul do líbano, então ocupado por israel (antes, portanto, da saída das tropas que agora regressaram), e da visita ao aquartelamento da força de interposição da onu.onde se descobriu -- e se redescobre -- que a morte de enviados da onu na zona não é propriamente uma novidade.




De derrota em derrota, a OLP perdeu quase tudo. No Sul do Líbano resta "um grupo sem nenhuma ligação com as chefias, que naturalmente se associa às acções do Hizbollah." Timur Göksel, porta voz da UNIFIL (United Nations Interim Force in Lebanon), a força das nações unidas que tem por função assegurar a paz na zona, comenta a situação: "Os hizbollahs são meia dúzia de tipos incontroláveis, que acham que têm o mundo inteiro contra eles. Andam para aí no meio das montanhas, e de vez em quando lançam uns rockets. São ataques psicológicos." E de vez em quando, matam gente. A 19 de Fevereiro, os tanques israelitas entraram mais uma vez no território, em resposta às katiushas que atingiram a região fronteiriça no extremo norte da Galileia, incluindo uma estação de autocarros em Kiriat Shmonah. A expedição punitiva e a barreira da UNIFIL travaram-se de razões na zona das aldeias libanesas de Kafra e Yetar, a soco e pontapé. O riso de Timur parece não deixar lugar para a amargura. "Afinal, o que é que nós podemos fazer? Não estamos aqui para lutar, nem estamos equipados para isso. O que se passou em Kafra e Yetar foi apenas um pouco mais violento do que é costume." Uma pausa. O tom é mais severo. "Toda a gente devia adorar-nos, aqui. Estamos aqui pela paz, não é? Em vez disso, somos acusados de um lado e do outro. O Hizbollah diz que deixamos passar os israelitas quando querem, e os israelitas dizem que não impedimos o Hizbollah de permanecer na zona. Parte-se do principio que os soldados da UN vêm para aqui passar uns meses, apanhar sol e ganhar algum dinheiro. Não é suposto morrerem no Líbano. Há dois dias, morreu mais um, depois do embate com as tropas israelitas. É o 185º, desde que viemos para cá, em 1978. Foi atingido por um estilhaço qualquer. Porque é que um rapaz das ilhas Fidji há-de morrer aqui, a milhares de quilómetros e casa, num conflito como este?" Na parede, lê-se em inglês: "Se julga que já está a perceber o que se passa no Líbano, é porque ainda não percebeu nada." A frase tem um alcance infinito.
Ao lado do quartel-general da Unifil, a povoação de Nakura vive em relativa tranquilidade. Uma rua de lojas com Levis falsificadas, camisas Nike e rolos Kodak abastece a base. Na curva da estrada, a duzentos metros, está a barreira do exército do sul do Líbano. Não gostam de fotografias e chamam com grandes gestos.
São dois tipos perfeitos para qualquer esquadrão da morte. E também gostam de M-16. Faz sentido: é o exército israelita que lhes paga. "Estavam a tirar fotografias? São da UNIFIL?" O melhor é fingir que não se percebe o inglês deles, que nem sequer é muito bom, e sorrir. "OK, mas não tirem fotografias, que o meu oficial não gosta."
A estrada é longa até ao virar da curva. Do lado direito, o mar. Quase uma estância turística.
"Se me perguntarem onde é Beirute, não sei responder. Pode ser para ali ou para o outro lado. Viajei por toda a Alemanha, mas não conheço o meu país." Abdir tem 25 anos e vende quase tudo que tenha uma marca para falsificar. Nasceu em Thir, a poucos quilómetros, mas nunca lá vai. "Salvei-me à justa de lá morrer, na luta entre as falanges do general Aoun e a OLP. Tinha ido com os meus pais para o abrigo havia meio minuto quando nos arrasaram a casa, juntamente com o hospital que ficava ao lado." Depois explica: "O problema do Líbano é que há países que pagam a este e aquele para fazer guerra. E quem aceita dinheiro para isso não é libanês. Se eu fosse comprado assim, podia ter corpo de libanês, podia parecer o mesmo, mas o meu coração era outra coisa." E esses soldados que estão aí ao fundo da estrada, o que são? Faz o gesto de quem arranca o coração.
|| f., 15:49 || link || (0) comments |

ainda mais claro

já sei que ninguém quer ler textos quilométricos em blogues, mas certas coisas não podem e sobretudo não devem ser reduzidas a slogans. resolvi por isso colocar aqui uma entrevista efectuada em 2001 a esther mucznik, líder da comunidade israelita de lisboa, para a notícias magazine. não fala especificamente do líbano, é certo -- mas fala de tudo o que interessa para o caso. é, digamos, uma modesta contribuição para que se pense o que está em causa neste velho conflito e nos outros conflitos todos que este tem o condão de revelar. também se pode encontrar aqui uma resposta -- a de esther mucznik -- à afirmação de daniel oliveira, no arrastão, sobre o líbano ser, ao contrário de israel, um "verdadeiro estado multi-confessional".

Entrevista a Esther Mucznik
Afinal não somos todos judeus

Há palavras que usamos assim, com leveza, sem nos darmos conta de formular um enigma. Esta é uma delas, tanto mais inquietante quanto através dos séculos foi insulto, ferrete de ignomínia e morte, causa de perseguição e extermínio. Veio a Inquisição e o Holocausto, veio a criação, pelas Nações Unidas, de um Estado para o "povo judeu", mas hoje como há dois milénios dizer o que é um judeu ou se os judeus são um povo permanece o oposto da evidência, mesmo para quem assim se assume. Nascida em Portugal numa família de judeus polacos, membro da direcção da comunidade isrelita portuguesa e da associação dos estudos judaicos, Esther Mucznik fala da religião judaica e do judaísmo, de Israel e dos palestinianos, de Jerusalém e dos fundamentalismos... e do acolhimento português.


Notícias Magazine — A comunidade a que pertence tem o nome de isrelita. É a mesma coisa, israelita e judeu?

Esther Mucznik — É a mesma coisa. Em finais do século XIX as comunidades que se criaram preferiram o nome de israelitas porque a palavra judeu era conotada pejorativamente. E a comunidade em Portugal, que só é reconhecida e legalizada em 1911 pelo governo republicano, escolheu este nome pelas mesmas razões.

NM - Porquê uma legalização tão recente?

EM - O fim oficial da Inquisição em Portugal data de 1821 e não significou logo a legalização dos cultos não católicos, que eram tolerados mas assimilados aos estrangeiros. A sinagoga de Lisboa não se vê da rua porque quando foi construída, em 1904, era proibido aos locais de culto não católicos ter fachada para a rua. Como antes da República o catolicismo era a religião oficial, só com a separação do Estado e da Igreja, em 1910, é que os outros cultos são reconhecidos.

NM — Não é confuso que a comunidade se chame israelita quando existe Israel ?

EM — Sim, e a tendência é para utilizar o nome de judaica.

NM- Diz-se judia, israelita ou portuguesa?

EM- Digo-me judia e portuguesa.

NM- A sua pátria é Portugal?

EM- A minha pátria é Portugal... Mas costumo dizer que a minha terra natal é o judaísmo. Não é bem no sentido que se dá à pátria, mas do lugar donde se vem.

NM- E donde é que vem?

EM- A família da minha mãe vem de Varsóvia, a do meu pai da Ucrânia, duma zona que na altura era polaca [após a Segunda Guerra Mundial, houve zonas da Polónia que passaram a fazer parte da então União Soviética].

NM- E vieram porquê, como?

EM- O meu avô paterno era hazan, cantor de sinagoga. Tirou o curso de rabino em Frankfurt. A época era já muito difícil para os judeus, sobretudo na Ucrânia e Polónia, e ele vai com a família para Paris, onde é oficiante de uma sinagoga até que a recém legalizada comunidade daqui o convida para vir para Lisboa. A minha mãe, que chegou cá com dezasseis anos, vem mais tarde, nos finais dos anos 20, de Varsóvia.

NM- De que perseguições foram alvo os dois ramos da família para fugirem das terras de origem?

EM- A minha mãe contava que lhe puxavam as tranças, chamavam-lhe "porca judia”... E houve o facto, determinante para a saída da Polónia, de o meu avô ser advogado e concorrer a um lugar de juiz e a sua candidatura não ser aceite por ser judeu. Em relação à minha família paterna foram coisas do mesmo género, a impossibilidade de uma vida normal. Associa-se muito o anti-semitismo ao nazismo, em termos até de data. Mas em finais do século XIX e princípios do século XX houve massacres e pogroms [nome dado aos massacres de judeus no leste da Europa] muito ferozes, sobretudo na Rússia, Ucrânia e Polónia. É nessa época que há uma emigração judaica massiva dessas zonas para os EUA.

NM- E até para a zona que é hoje Israel...

EM- Sim, os construtores de Israel vieram todos da Rússia nos primeiros vinte anos do século XX.

NM - Nunca sentiu discriminação em Portugal?

EM- Sentia a diferença. Para além do facto de nas festas religiosas não irmos à escola, havia os costumes alimentares polacos... Eu por exemplo levava para a escola pão com manteiga e rodelas de nabo cru, e claro que as minhas colegas riam-se porque levavam pão com queijo ou fiambre ou doce... Outra coisa era a liberdade que eu tinha e as minhas colegas não. Saíamos com rapazes à noite, íamos ao cinema, dançar... Isto nos anos 50, quando não era de todo comum. Sempre com rapazes da nossa comunidade, porque havia um relacionamento desde a infância muito livre e próximo.

NM- Sabe que judeu em língua portuguesa é um insulto, sinónimo de forreta, mesquinho, etc. E judiaria significa maldade.

EM- Ainda será?

NM- Vem pelo menos em três dicionários. Estas expressões não indiciam sentimentos discriminatórios da parte dos portugueses?

EM- A língua é uma coisa muito forte. Acho é que a linguagem veicula estereótipos, mais que convicções. Dou sempre este exemplo: houve um inquérito europeu a jovens, creio que em 1995, e uma das perguntas era "importava-se de ter um vizinho cigano, judeu, etc?". 19 por cento dos jovens portugueses responderam que não gostariam de ter um vizinho judeu. Isto significa o quê? São estereótipos. O meu vizinho, que nem sabe que sou judia, poderia ter respondido isso.

NM- Isso é melhor ou pior?

EM- Não sei se é pior se é melhor, sei que é mau. Vou muito a escolas falar, e os jovens perguntam-me porque é que os judeus são avarentos, ou porque é que se diz isso.

NM- Como é que isso se explica?

EM- Durante séculos os judeus foram impedidos de trabalhar numa série de profissões — não podiam ter terra, por exemplo, não podiam enveredar pela carreira militar... — e portanto dedicaram-se ao que lhes era permitido. Por exemplo ao empréstimo de dinheiro, que era proibido pela Igreja mas vital para a economia. A própria Igreja recorria aos judeus! Claro que não se dedicaram apenas às finanças: foram também grandes médicos, astrónomos... Por outro lado, as perseguições implicavam a preferência por riquezas móveis, jóias, dinheiros, que pudessem levar em caso de fuga.

Em memória e pena de terem vendido Jesus?

NM – Falemos então dos motivos dessas perseguições. Num dos dicionários que consultei encontrei a palavra "judenga". Fiquei a saber que é "o tributo de 30 dinheiros que os Judeus pagavam por cabeça em memória e pena de terem vendido Jesus por 30 dinheiros". É daí que vem tudo, do gesto de Judas?

EM - Não, já antes os judeus causavam estranheza pela sua concepção, revolucionária para a época, da divindade. Foram os criadores do monoteísmo ético, da ideia de um Deus único, transcendente e criador do universo. Mas também os seus costumes e hábitos alimentares os diferenciavam dos outros povos.

NM - Curiosamente, se judeu tem muitos sinónimos, um é nazareno. Jesus era ou não judeu?

EM - Claro que era judeu e nunca quis romper com o judaísmo, apenas com algumas práticas judaicas. Na época do nascimento de Jesus existiam várias seitas judaicas, e ele faria parte de uma delas. É muito mais tarde que a Igreja cristã, ao procurar afirmar-se contra o judaísmo, acusa os judeus de serem o povo deícida e até de terem um pacto com o diabo. Estes quase dois mil anos de anti-judaísmo tiveram um enorme impacto nas mentalidades, facilitando a indiferença face ao genocídio nazi. A "solução final" nazi visava solucionar um velho problema. E a responsabilidade da Igreja católica nessa matéria foi há pouco tempo reconhecida pelo papa, ao pedir perdão aos judeus.

NM- Professa a religião judaica?

EM- Para mim o judaísmo não é só uma religião, portanto não é uma questão de professar. Claro que a religião é a base do judaísmo e sou judia nesse aspecto. Mas também por partilhar uma História, um destino, uma cultura, uma memória, uma língua...

NM- De que língua fala? Do yidish, do hebraico?

EM- Da língua hebraica. O yidish, que não sei se deva definir como um dialecto ou uma língua e tem como base o alemão com uma mistura de hebraico, marcou a minha infância porque os meus pais falavam-no entre eles. É uma língua própria dos judeus asquenazim (asquenaz em hebraico quer dizer Alemanha e é uma denominação cultural que abrange os judeus da Europa Central e de Leste), tal como o ladino, com origem no espanhol, é ou era a língua dos judeus sefarditas [com origem na Peninsula Ibérica, Marrocos, etc].

NM- Quando diz que essas línguas têm mistura de hebraico, de que hebraico fala? Tenho a ideia de que a língua do Estado de Israel não é propriamente ancestral.

EM- Mas é. O hebraico sempre foi, ao longo dos dois mil anos de diáspora, um meio de comunicação. As pessoas pensam que era uma língua morta e que de repente se construiu o hebraico israelita. Não é verdade: é a mesma língua, com adaptações e inovações. Em qualquer comunidade judaica ouve as pessoas falar inglês ou francês ou português e no meio disso usar palavras hebraicas que são um código de referências culturais. Para mim, ser judia é essa complexidade de relações, não se define só pela religião. Se fizesse um inquérito encontraria quem lhe dissesse que é ateu e judeu...

NM- E um judeu católico, é concebível?

EM- Não, porque opta por outra religião.

NM- Ser ateu também é uma opção religiosa.

EM- É completamente diferente. Optar pelo ateísmo não é optar por outra religião. Do ponto de vista da lei judaica, é judeu quem é filho de mãe judia...

NM- E ter mãe judia é o quê? É ser filho de alguém que professa a religião judaica ou que vem de uma linhagem judia?

EM- É ter uma mãe que é filha de outra judia e por aí fora.

NM- Se eu agora me converter à religião judaica, e tiver um filho, isso faz de mim uma mãe judia?

EM- Sim. E seria tratada, no seio da comunidade, exactamente como os outros. Claro que estamos a falar da lei. Mas o lado subjectivo do sentimento religioso é muito importante. Ou seja, se uma pessoa diz: eu sou filho de mãe judia mas não quero ser judeu, continuará a ser considerado, do ponto de vista da lei judaica, como um judeu, mas de facto não é. Percebe?

NM- Não é fácil. Quando fala de lei judaica, fala de uma lei religiosa?

EM- Sim, há um conjunto de regras que definem toda a nossa vivência, inclusive quem é ou não judeu.

NM- É da mesma natureza das leis da Bíblia, portanto?

EM- Sim, mas muito mais recente. E esta definição de um judeu como alguém cuja mãe é judia penso que teve a ver com pogroms ocorridos no século XVII, em que houve, como é tradição nestas coisas, violações em massa. Como não se tinha a certeza sobre quem era o pai das crianças, a linhagem tinha de ser materna.

NM- Voltamos à questão primordial: há uma confusão entre a definição religiosa e a linha do sangue...

EM- E com a existência de Israel, as coisas ainda se complicam mais. Ao abrigo da Lei do Retorno, de 1952, todo o judeu — entendido como filho de mãe judia — pode adquirir a nacionalidade israelita. E houve vários padres católicos, filhos de mãe judia, que requereram a nacionalidade ao abrigo dessa lei. Aí os tribunais israelitas acrescentaram a condição de não conversão a outra religião. Claro que esses padres poderiam adquirir a nacionalidade israelita, mas pelo processo normal.

NM- Como é que se certifica o ser judeu?

EM- É a comunidade de origem da pessoa. Cá, é a comunidade israelita, as instâncias religiosas, que passam um papel comprovativo. É simples.

NM- Mas nada óbvio. O escritor israelita Amos Oz diz até que ser judeu é uma questão metafísica. Que qualquer ser humano que seja maluco o suficiente para se chamar a si próprio judeu, é um judeu.

EM- Ao perguntar a um israelita o que é ser judeu terá uma resposta diferente da de um judeu da diáspora, porque um judeu de nacionalidade israelita define-se antes do mais pela sua condição de cidadão de Israel.

Judeus negros, japoneses e chineses?

NM- Uma das coisas que mais desafiou em mim a noção tradicional do que é um judeu foi constatar, em Israel, que há judeus negros.

EM- Sim, são os falashas, da Etiópia. É mais um sinal da diáspora judia. Não há judeus japoneses e chineses? Não há país no mundo onde não haja judeus. Há judeus de todos os feitios, cores e raças.

NM- A comunidade mais numerosa em Israel é a dos sefarditas, não?

EM- Já não sei, com a chegada de quase um milhão de russos... O último censo israelita indica seis milhões e trezentos mil habitantes.

NM- É um número simbólico.

EM- Sim, por causa da Shoah [holocausto — foram seis milhões os judeus que morreram nos campos de extermínio nazis]. Mas esses seis milhões de israelitas incluem mais de um milhão de árabes. Em 55 anos, Israel teve vagas de imigração sucessivas de mais de setenta países. Pode-se criticar tudo, pode-se dizer que os sefarditas não têm os mesmos direitos dos asquenazim... Mas é um verdadeiro milagre, essa integração.

NM- Mas Israel foi criado para isso, é por essência um Estado de imigrantes.

EM- Se em 50 anos Portugal tivesse levas de imigração como teve Israel, acha que tinha sido fácil? São culturas muito diferentes e díspares e por vezes um processo de integração muito doloroso.

NM- Os judeus sefarditas queixam-se de serem discriminados pelos asquenazim, inclusive nos cargos políticos. Todos os dirigentes são asquenazim: Begin, Rabin, Nethanayu, Sharon... Na verdade, não sei o que é o actual primeiro ministro, Barak...

EM- Também não sei. E cada vez se saberá menos, porque essas diferenças se estão a esbater. A escola e o exército encarregam-se disso.

NM- Mas se os sefarditas são discriminados, o que fará os falashas.

EM- Esses viveram uma situação dificílima. Desde logo, o nível cultural, dos etíopes não tinha nada a ver com o da maioria dos israelitas, e talvez à época da sua chegada os dirigentes israelitas não tenham feito tudo o que deviam para os ajudar. Mas hoje em dia os jovens falashas estão a integrar-se perfeitamente...

NM- Outra coisa que impressiona em Israel é a dificuldade de distinguir, na aparência, os israelitas dos palestinianos. É uma guerra entre irmãos que já viveram em paz, há sessenta, setenta anos atrás. É impossível recuperar isso?

EM- O ideal seria um Estado bi-nacional. Mas neste momento nem vale a pena falar nisso. O caminho para a paz é um divórcio civilizado, como diz Shimon Perez. Cada um tem de ter o seu Estado, e sentir-se livre e soberano. E os palestinianos vão ter de aprender a viver com Israel. O que não é fácil. OLe Monde publicou um estudo sobre manuais escolares em Israel e na Palestina: nos livros palestinianos Israel não está no mapa. E não se fala em israelitas, mas em judeus e sionistas. Porque só dizer esse nome significa aceitar a realidade de Israel. Há um trabalho que tem de ser feito. Apesar de tudo, em Israel não há cultura do ódio no sistema educativo...

NM- Amos Oz diz que foi um miúdo da intifada, a atirar pedras aos ingleses. Felizmente nenhum inglês lhe deu um tiro na cabeça. Fala-se disso, nos livros de escola israelitas? E dos atentados das organizações de libertação judaicas contra os ingleses, as bombas, isso tudo?

EM- Esses movimentos, como o Irgun, que defendiam acções terroristas contra a ocupação inglesa, não constituíam a posição oficial do movimento judaico de Ben Gurion [fundador do Estado de Israel]...

Israel: um Estado laico de substrato bíblico?

NM- Os fundamentalistas israelitas dizem que qualquer judeu que não viva em Israel se deve sentir culpado, porque essa é a sua obrigação moral. Sente essa culpa?

EM- Fui para Israel em jovem porque acreditava que para viver como judia era lá e não aqui. E por vários motivos pessoais não fiquei, embora tenha lá toda a minha família. Acho que a grande aventura do judaísmo no século XX foi a criação de Israel, mas não sinto culpa, até porque acho que sempre houve, desde a destruição do primeiro templo, no ano de 586 antes da era comum, dois pólos no judaísmo: o de Israel e o da diáspora. O que dizem esses israelitas que citou é um totalitarismo ideológico. A realidade judaica sempre foi multifacetada e espero que continue a ser.

NM- Mas Israel foi criado como "a pátria de todos os judeus".

EM- A terra de Israel sempre foi um elemento fundamental do judaísmo. A esperança messiânica de retorno a Sião — que é uma colina de Jerusalém, a palavra donde vem o termo sionismo — permitiu ao judaísmo sobreviver. Isto no aspecto religioso. Do ponto de vista mais concreto, acontece que no século XIX, quando os judeus obtêm a emancipação em vários países e são reconhecidos iguais em direitos e deveres, se verifica o aparecimento do anti-semitismo, da teoria que defende que os judeus são uma raça inferior. E há uma desilusão profunda, que é a de constatar "afinal, nunca teremos o nosso lugar". Esse desencanto leva à ideia de que a solução é a criação de uma pátria.

NM- Ponderou-se a hipótese de fundar Israel onde é hoje o Uganda ou o Ruanda...

EM- Sim, no Uganda. Houve até em Portugal a proposta de estabelecer um "lar judaico" no planalto de Angola, que chegou a ser discutida na Assembleia Nacional... Mas o movimento sionista internacional nunca poderia aceitar outra pátria que não fosse a Palestina.

NM - E conseguiu-a, em 1947. Mas Israel foi sempre um Estado laico. Não é uma contradição? Afinal, não conheço outro país que tenha sido fundado para os membros de uma religião.

EM - É um Estado laico no sentido em que não há uma religião oficial, cada um escolhe a religião que bem entende. Porém, como diz o historiador Elie Barnavi, é um Estado laico de substrato bíblico, que se refere constantemente à Torah [livro sagrado da religião judaica]. Não tem Constituição não só porque é um país jovem mas porque foi um compromisso assumido por Ben Gurion com os religiosos, que defendiam que ela não era necessária porque havia a Torah. Mas sabe qual foi o primeiro país a reconhecer o Estado de Israel, nesse mesmo ano? A União Soviética. Grande parte dos habitantes de Israel eram judeus soviéticos, imbuídos dos ideais socialistas e igualitários, que criaram um Estado laico, livre e democrático, contrariamente ao que se passava na altura e ainda hoje na região.

NM- Há quem — incluindo israelitas — considere que Israel vive em esquizofrenia: é uma democracia para os israelitas, e só para alguns, já que existem árabes israelitas que não se sentem cidadãos de pleno direito. Isso para além do problema dos territórios ocupados...

EM- Israel é um Estado democrático. Existe separação de poderes, e eleições democráticas... Quanto aos árabes israelitas, se na lei têm todos os direitos, são de facto vítimas de discriminação. O mesmo se passa cá com os ciganos, os cabo-verdianos... São cidadãos de segunda, sem as mesmas oportunidades. Não podemos misturar as coisas.

NM- Temos um povo discriminado e perseguido durante milénios que por sua vez discrimina e persegue, e um Estado em permanente estado de sítio, de cujo território fazem parte zonas anexadas…

EM- Primeiro, sou contra as amálgamas e contra as falsas analogias. Não acho que estejamos a fazer o mesmo que nos fizeram a nós. Por muita injustiça que se cometa nos territórios ocupados, Israel não tem o objectivo de exterminar o povo palestiniano. É uma guerra...

NM- Esses territórios são parte de Israel. Vivem lá israelitas, existem colonatos...

EM- Se me pergunta se a ocupação é uma coisa boa, digo-lhe que não. E considero que o povo palestiniano deve ter o seu Estado, que não pode ser noutro sítio senão nos territórios conquistados em 1967: em Gaza, na Cisjordânia...

NM- Com Israel no meio, portanto.

EM- Sim, mas aí a culpa não é de Israel, é da partilha de 1947 que desenhou fronteiras explosivas.

NM- Há milhares de palestinianos que vivem em Gaza, em campos de refugiados, que foram expulsos de zonas que hoje são Israel.

EM- Houve de facto algumas deslocações. Mas houve também gente que se veio embora com medo, como é natural. Porém, em 1947/48, os países árabes não se preocuparam com os palestinianos. A Cisjordânia, que com a Transjordânia constituiu a Jordânia, podia ter sido logo a terra dos palestinianos. Isso vai ser uma realidade, mas negociada com Israel. A única coisa que se discute é quando, como e por onde. Toda a gente em Israel aceita isso.

NM- Os fundamentalistas israelitas aceitem isso?

EM- Nem isso nem nada. Há ultra-fundamentalistas que nem sequer aceitam a existência do Estado de Israel porque não foi criado pelo Messias.

NM- Mas não foram esses fundamentalistas de que fala que mataram Rabin por ter aceite negociar com Arafat e ceder terras em troca de paz.

EM- Foram os fundamentalistas. Se é o ramo assim ou assado... Foram os fundamentalistas que querem o "Grande Israel". E digo-lhe mais: os colonos são hoje em dia um dos maiores obstáculos à paz.

NM- Que deve Israel fazer em relação aos colonatos?

EM- Isso tem de ser negociado. Uns colonatos devem ser desmantelados, outros mais fronteiriços podem ficar e outros ainda que queiram permanecer ficam com a nacionalidade palestiniana.

NM- Mas os colonatos neste momento são praças fortes em território ocupado, armadas por Israel.

EM- Isso é hoje. Estou a falar no futuro. Até hoje, Israel manteve-se pela sua força militar. Mas a longo prazo só se poderá manter inserindo-se harmoniosamente na região.

NM- Seria injusto dizer que é uma escolha dos israelitas viver em guerra permanente. Mas um Estado em guerra permanente pode ser inteiramente democrático?

EM- Percebo o que quer dizer. Mas ao longo destes 52 anos houve Imprensa livre, houve imagens de tudo na televisão... As próprias Forças Armadas israelitas têm uma lei que permite aos soldados desobedecer se lhes forem ordenadas coisas que vão contra a sua consciência... Não vou ser demagógica e dizer que esta lei é aplicada todos os dias, mas...

NM- Vemos todos os dias na TV a forma como essa lei é aplicada.

EM- Sim e não... Porque há coisas que não se sabe.

NM- Organizações não governamentais israelitas de defesa dos direitos humanos dizem que o apuramento de responsabilidades quando um soldado mata a tiro um manifestante armado de fisga deixa muito a desejar.

EM- Mas isto é guerra!

NM - Pedras contra balas é uma coisa complicada.

EM - Deixemo-nos de demagogias. Pacheco Pereira disse-o numa crónica: cada pedra atirada por uma criança em frente a uma câmara de televisão tem um efeito mil vezes mais devastador que um tanque israelita.

NM - Está a falar de propaganda. Mas essas crianças são mortas por balas israelitas.

EM - Num artigo do jornal francês Le Monde, que é insuspeito, descrevia-se o ritual, perfeitamente orquestrado: primeiro atiram-se os pneus incendiados para atrair os soldados israelitas. Depois há crianças de sete, oito anos, que estão a afiar as pedras e que as dão a miúdos de 10, 11 ou um pouco mais. E por trás, emboscadas, estão as milícias, com armas semi-automáticas. Há uma utilização das crianças. Não ponho em causa o ódio, a raiva, a dor das crianças e jovens que vivem nos campos de refugiados...

NM - Não tenho dúvidas que as crianças de seis e oito anos que vi nas ruas de Gaza participam nisso por muitas razões, algumas delas bastante incompreensíveis, como a existência de uma cultura do martírio. Mas repare nos números: são cem palestinianos mortos contra um soldado israelita morto. Se há milícias a disparar contra os israelitas, porque é que só morrem palestinianos?

EM - Exactamente por isso que acabámos de dizer. Querem que os soldados israelitas respondam com pedras? Não dá, é impossível.

NM - Viu as imagens do pai e filho palestinianos, apanhados pelas balas dos soldados israelitas?

EM - Não vamos falar disso, essa imagem é absolutamente insuportável. E o linchamento também...

NM- Qual linchamento?

EM- Está a ver? Não sabe do linchamento dos dois israelitas numa esquadra da polícia palestiniana em Gaza. É como as notícias do bombardeamento: nos jornais vem "Israel bombardeia Gaza" em letras garrafais, na primeira página, e lá dentro, em letras pequeninas, "Em resposta à bomba colocada num autocarro de colonos". Era um autocarro escolar, de crianças! Não interessa se era de colonos ou não...

NM- Israel bombardeou por exemplo o edifício da televisão palestiniana. Acha que foram as pessoas da TV que puseram a bomba no autocarro?

EM- Não. Claro que não defendo esta escalada na violência. Mas há uma coisa que é evidente: não há Estado palestiniano, mas há a Autoridade palestiniana...

NM- O Estado espanhol não bombardeia o país basco quando a ETA põe uma bomba no centro de Madrid. Será que os palestinianos são todos inimigos?

EM- Há um estado de guerra, não podemos comparar situações que não têm comparação. Não defendo represálias, mas se as represálias tivessem sido fortes não eram só 200 palestinianos que tinham morrido até hoje. Defendo negociações, mas tem de se parar com esta violência. Israel não tem feito outra coisa senão responder, embora às vezes com meios excessivos.

NM- Mas porque é que respondem? Se o ritual está identificado, com os pneus a arder e mais não sei o quê, porque é que se deixam provocar? As zonas em que se dão os confrontos são zonas em que só vivem palestinianos. Se eles querem queimar pneus, deixá-los.

EM - Deixá-los? Acho que do ponto de vista militar isso é impossível.

NM- Bom. Em relação a Jerusalém, defende o quê?

EM- Que a capital do Estado palestiniano seja Jerusalém Este. O como, não sei, não sou política. Sei é que essa fronteira já existe: a parte Este e a parte Oeste da cidade são realidades culturais, religiosas e linguísticas completamente diferentes. O grande problema é o quilómetro quadrado dos lugares santos. Não sei resolver essa questão a não ser utopicamente: como são lugares santos judaicos, cristãos e muçulmanos, devia haver um comité religioso a reger aquilo.

NM- Foi uma grande infelicidade que os profetas tenham todos resolvido morrer e ir para o céu na mesma zona.

EM- O muro do templo é o que resta do templo de Salomão e ao lado fica a mesquita de Al Aqsa... Talvez não se deva começar por discutir os lugares santos e se deva construir um clima melhor com resoluções de outras coisas. Agora, abordar tudo ao mesmo tempo, colonatos, territórios ocupados, lugares santos... Mas não me pergunte mais sobre isto. Não lhe sei dizer mais.

Os judeus existem pelo olhar do Outro?

NM- Dou-me conta de que só falámos de definições dos judeus por si mesmos. Que definição de judeu presidiu às perseguições nazis?

EM- Isso ia até à sétima ou décima geração.

NM - Era portanto a ideia de que existia "sangue judeu", "raça judia".

EM - É a grande contradição dos nazis: eles definiam como raça e sangue uma coisa que era a religião judaica. Porque os judeus que eles perseguiram eram alemães. Então ser judeu era o quê? Raça, sangue, religião? É um dos grandes absurdos da perseguição nazi.

NM - Precisamente: cheguei a esta altura da entrevista sem perceber se devo ou não usar a expressão "povo judeu".

EM - Os judeus não são uma etnia, não são uma raça, não são só uma confissão religiosa... Somos aquilo em que a vida nos transformou. Fala-se de povo judeu, mas se formos à definição do que é um povo, se calhar os judeus não o são. É complicado.

NM - Crê que a identidade dos judeus, tal como ma explicou, como a sente, existiria sem as perseguições?

EM - Não sei, porque os Ses não existem na História. Sartre dizia que os judeus existem pelo olhar do Outro, pela discriminação. É um facto que as perseguições exacerbam a consciência de si. Mas o judaísmo tem uma identidade fervorosamente transmitida e foi isso que nos manteve.

NM- Acha que o Estado de Israel teria existido se não fosse o Holocausto?

EM - A compra de terras na Palestina, a emigração de judeus para lá, o programa sionista, nasce muito antes, no século XIX. O primeiro congresso sionista é em 1897. Estou convencida que a longo prazo Israel se iria criar, mas o grande impulso foi de facto o Holocausto. Foi o que tornou Israel possível naquele momento. A ironia, se existe, é relativamente aos desígnios de Hitler de exterminar os judeus.

maldita gis 2

pela abrunho

sensibilidade e bom senso

acabo de ver o presidente do irão a dizer que 'quem semeia ventos colhe tempestades' e que os conflitos devem ser resolvidos com base na racionalidade, no diálogo e mais não sei quê. quem diria que é o mesmo gajo que dia sim dia não proclama a necessidade de varrer israel do mapa?

ah, a propósito: ontem de manhã a sic notícias passou uma reportagem sobre o hezbollah. o hezbollah tem um canal de tv, metade da programação do qual é dedicada à propaganda anti israelita. um dos spots passados na reportagem diz: há 300 milhões de muçulmanos no médio oriente e apenas 6 milhões de judeus. de que estamos à espera?

terça-feira, julho 25

barricadas

há as dos pró israel, as dos contra israel e agora, parece, também as dos que têm dúvidas e as dos que já não sabem o que dizer. o que, de uma forma enviesada, permite chegar à conclusão certa: não há inocentes.

e sempre se convive, não é, tiago?

olha, outra coisa em que eu e a ana não estamos de acordo

ela, como o franco atirador, gosta de dire straits.eu tenho pesadelos com o mark knofler ou lá como se chama o gajo da cena na cabeça

clarificação

parece que quem ache que eu tenho uma posição pouco clara sobre israel, líbano e palestina. clarifico então: há coisas sobre as quais não sei o que pensar, quanto mais dizer. há coisas em relação às quais sou tentada ao voto de silêncio. coisas que me tocam e desgostam demasiado e em relação às quais tudo parece já ter sido dito e escrito -- até por mim. mas isto sou eu, que tenho a mania das complicações.

(porém, como já escrevi neste mesmo blogue, não discuto a existência do estado de israel. não admito sequer que isso esteja em discussão. e se isso é todo um programa bélico, que seja)

quanto ao zapatero, não percebi. tenho de o explicar a ele também?

maldita gi

a gi, ou gis, ou gisberta, ou gisberto ou lá o que era aquele fenómeno foi enfim desmascarada.

ao fim de uma semana de julgamento ou lá o que foi, o ministério público concluiu que além de não ter havido homicídio nenhum, como a investigação já tinha provado, nem sequer houve tentativa do dito.

aquela história de a pessoa em causa ter sido pontapeada, apedrejada, e de um modo geral saco de pancada durante dias, violada com paus e queimada e depois enfiada por um fosso de 15 metros abaixo onde teria vindo a morrer afogada é como é óbvio uma perversa fabricação da própria, que farta de uma vida miserável como prostituta toxicodependente seropositiva para o hiv e para o hcv e ainda por cima turberculosa, para já não falar daquele problema de ter a mania de ser mulher quando nasceu homem (coitada ou coitado, nem sabemos bem) resolveu pôr-lhe termo encenando uma cena horrível com os pobres dos miúdos, a quem já não bastava estarem entregues a instituições e não viverem com a sua família natural (que como se sabe é o melhor que há) para ainda terem de assistir a uma barbaridade daquelas e ficarem para sempre, talvez mesmo para a eternidade, traumatizados. felizmente que foram muito acarinhados e bem orientados para a vida pelos padres lá da oficina de são josé e deram com um ministério público arguto e não disponível para ser enganado, senão não se imagina o que poderia acontecer-lhes.

que alívio. mas uma pessoa não pode impedir-se de pensar o que terá passado na cabeça da tal gi. já viram, dar-se àquele trabalho todo só para prejudicar os miúdos que, coitadinhos, ai, não conseguiam sair dali, de tão horrorizados e petrificados que estavam, e assistiram a tudo. é que ainda lhe deve ter doído um bocado, fazer aquilo tudo a ela própria, apesar de já estar tão doente que já nada devia fazer grande diferença. aliás ia acabar por morrer de certeza, mais tarde ou mais cedo, por isso também não interessa muito descobrir como, porquê e isso.

aliás, ainda bem que tudo o que se passa no julgamento fica no segredo lá do tribunal. há coisas que ninguém quer saber. e conclusões cujas premissas e desenvolvimentos é preferível ignorar. o que importa é que tudo fique em bem e que esqueçamos esta história horrível rapidamente.

segunda-feira, julho 24

Mais uma vez a China Blue

O que eu queria era ter escrito um texto destes e mai nada.


amigos
Todos os amigos de alguém usufruem do direito ao avanço insensato de uma guarda pretoriana, que são os amigos que têm. A todos os amigos de alguém é devido o gozo mutual da fidelidade canina, para o bem e para o mal, para o certo ou o errado. Virados uns para os outros, na absoluta concentração da linguagem simbólica e simbiótica que os une, os amigos (para o serem deveras) têm que estar em pé de igualdade: a mesma fragilidade desnudada e o orgulho em idêntico plano de remoção. Amigos não existem, nem por baixo, nem por cima (caso em que falamos de outra coisa). Dizer-se que se gosta muito dos amigos, como um miúdo que descobriu a pólvora numa redacção infantil, hesitante por isso nos pontos finais, não passa de redundância desconfiável. Embora o amor pelos amigos possa ser redondo, porque por vezes acaba onde um dia começou, depois de cumprida a circunvalação de todos os segredos. A amizade deposita-se nos outros como na relva: há que andar com cuidado para não a pisar e contornar-lhe os melindres, como se de vidros partidos.


CHINA BLUE
Em Sociedade Anónima

sim, ana, era para ti

até não perceber

em setembro de 2003, dez dias após o atentado na sede da onu que matou sérgio vieira de mello, entrei no iraque, por estrada, vinda da jordânia. na noite da partida, jantei num restaurante 'da moda' de aman, com dois jordanos palestinianos (ou ao contrário), uma professora universitária e um arquitecto, e uma iraquiana cujo marido permanecia em bagdad, a trabalhar na al jazeera. e eles perguntaram

"Porque queres ir a Bagdad?".

"Por que é que alguém há-de querer lá ir, agora?"

A conversa, entrecortada por pizzas, kebabs e pela música ambiente, passa sobretudo por isso a que se chama “a questão do Médio-Oriente” — da sempiterna discussão sobre a legitimidade do Estado de Israel às razões (?) dos bombistas suicidas, passando pelo direito à auto-determinação dos povos, pelas culpas dos ex-colonizadores e pelo voluntarismo imperial dos americanos —, até se fixar no conflito Ocidente-Oriente e na indizível fronteira que define os nossos e os outros e faz mil vezes mais insuportável, daqui, a visão de uma soldado americana negra feita prisioneira que a de uma criança iraquiana destroçada numa cama de hospital. "Por que é que isso sucede", pergunta, pungente, um dos jordanos, ele que se tortura no mesmo, esta guerra de empatias e da falta delas. Impossível responder, racionalizar. É sobretudo por isso que se vai a Bagdad — para descobrir a improbabilidade do sangue e acertar o coração por mais outro hemisfério, o nome secreto de outros irmãos.


(excerto de 'não, tu não viste nada em bagdad', publicado na notícias magazine em 2003)

A conversa rasca

Alguma da conversa sobre a história da guerra no Líbano é rasca: aqui e acolá vêm acusações de anti-semitismo. Quando a conversa vem de loucos furiosos, sou mais ou menos tolerante. Com os loucos furiosos é preciso ter complacência e dar-lhes xanax. Depois há os outros, a quem desconheço o certificado de loucos furiosos. P.f. mostrem-me o certificado antes que eu comece a vomitar.

O Franco Atirador

No Franco Atirador estão algumas das melhores coisas que se escrevem na blogosfera.

A propósito de revisionismo

Estou à espera que o Luís vá aos arquivos e mude tudo o que escreveu sobre a guerra do Iraque. Nesse aspecto, a f. é evidentemente coerente: ela apoiou a invasão do Iraque.

domingo, julho 23

adenda: do pensamento dominante e do banimento dos desconformes

a maria josé nogueira pinto, num debate na sic em 1998/99 sobre os 'direitos dos homossexuais', para o gonçalo diniz, à época presidente da ilga-portugal e para o sérgio vitorino (hoje da frente de luta contra a homofobia/panteras rosa):

'eu acho que vocês têm o direito de existir'

com uma letra apenas se destroi a familia / e das letras pequenas das mais perigosas que no mundo ha

maria josé nogueira pinto, no dn de sexta (faço o link depois, o mac não deixa), explica como o ' a correcção política e o discurso dominante' querem destruir a família. começou tudo, diz, da forma mais aparentemente inocente: os malandros do 'discurso dominante' acrescentaram um 's' à família. com uma simples letrinha, retiraram-na assim do centro da correcção. já não havia só uma família, a única, mas várias.

note-se que esta correcção ortográfica tão singela criou em si uma nova realidade. as 'novas categorias' de família assim alcandoradas à dignidade do vocábulo 'apareciam como conquistas dos tempos modernos' mas 'ninguém exprimiu a dúvida pertinente quanto aos benefícios dessas conquistas'.

e mjnp exemplifica: 'as famílias monoparentais, sabemos, resultam na sua esmagadora maioria do facto de os homens abandonarem as mulheres e os filhos, ficando estas entregues a si próprias e à dura missão de prover às necessidadesc da família agora reduzida a um único adulto, a mãe'. (que giro. eu cá achava, na minha ignorância e má fé, que o crescimento do número das famílias monoparentais -- que de resto sempre existiram e não eram mais porque há uns anitos, nem muitos, as crianças que nasciam fora do bendito e sacrossanto casamento iam parar à roda e os casamentos se desfaziam na realidade mas não no papel, até porque, talvez convenha lembrar, o divórcio era interdito -- se devia ao facto de as mulheres, mais autonomizadas económica e culturalmente, estarem muito menos dispostas a aguentar relações massacrantes).

e continua, em direcção às uniões de facto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo, depois de descrever como as políticas de ordenamento e habitação erradas deram cabo da família alargada (curiosamente, mjnp fala do caso português e apenas do caso português, como se as mesmas políticas -- portuguesas -- servissem para explicar um fenómeno global. mas isso agora não interessa nada): 'em espanha, onde tudo é avaliado, os números indicam que poucos recorreram à união de facto, após a entrada em vigor da nova lei, sendo possível concluir que não seriam muito numerosas as pendências nesta matéria... em breve teremos os números dos casamentos celebrados entre homossexuais'. (desculpem, esta tem mesmo de levar um parentesis. quer mjnp levar-nos a concluir que a realidade 'união de facto' é pouco expressiva? e poucos são quantos? não estará a confundir o registo das uniões com a sua existência real? e, ainda, a haver mesmo 'poucos' casos, isso significa o quê? -- a mesma questão se coloca no caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo. é curioso como as pessoas que defendem que a homossexualidade é uma coisa indesejável e que deve ser, a existir, o mais disfarçada possível, pretendem retirar conclusões sobre o número de assunções públicas de ligações entre pessoas do mesmo sexo ao fim de um ano de vigência da lei).

para concluir: 'não vale a pena confundir as necessidades, que todos reconhecemos, de tratar juridicamente novas realidades sociais, com a subversão de instituições indispensáveis à saúde e ao desenvolvimento das pessoas e das comunidades'.

e que 'instituições' (o 's' é da autora, certamente já baralhada pelos que denomina de 'donos do pensamento dominante', os tais que 'actuam como censores ditatoriais, banindo os desconformes e silenciando os críticos' -- e que silenciada e banida que a sôtora maria josé, mais os outros todos que pensam como ela, tem sido, ao contrário dos que não pensam como ela, que pululam para aí por tudo quanto é coluna de opinião e cargo de poder e contra os quais nunca por nunca se movem campanhas, não) serão essas, perguntamos nós? mjng responde: 'o pilar que sustenta o indivíduo e a sociedade'; 'o âmbito privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e a receber amor'; a instituições intermédia entre o indivíduo e a sociedade insubstituível nessa mediação porque assente numa profunda relação interpessoal'; 'da escola de humanização do homem no seu processo de crescimento'.tudo isto é a 'família'. sem 's'. e para isto tudo, percebemos, não servem as 'famíliaS'.

não se é sustentado como indivíduo numa família monoparental, nem numa união de facto, nem num casamento entre pessoas do mesmo sexo. não se aprende aí nada sobre dar e receber amor. nem se encontram aí profundas relações interpessoais, nem se cresce, nem se passa por um processo de humanização (seja lá isso o que for). não. aí é só sexo, infelicidade, pobreza e doenças (já diz o nosso presidente, deus o proteja). e, quiçá, violência -- toda a gente sabe que violência não há na família sem s, pela simples razão de que uma família onde há violência passa logo a caber no conceito famíliaS.

vá lá, não se divorciem. vocês, ó mulheres, não se deixem abandonar pelos homens. vocês, ó homens, não abandonem as vossas mulheres. quando engravidarem uma por engano vosso e dela, façam o vosso dever, casem com ela e sejam os dois mais os rebentos infelizes para sempre. se vos apetecer outra coisa de vez em quando, sabem o que têm a fazer -- as trabalhadoras e os trabalhadores do sexo fizeram-se para essas ocasiões (se existem, é porque deus nosso senhor lhes reserva um papel no mundo, não acham?). e, sobretudo, não amem quem amam. ou, se amarem, paciência: o amor não é tudo. a felicidade não interessa. a vida não importa. o importante é a família. a FAMÍLIA.

o problema, cara maria josé, é que esta gente é burra. não quer ouvir. só quer fazer o que lhe dá na realíssima. gentinha sem educação, sem sentido da responsabilidade. qu'hórror.

o bem, o mal e o resto

façam de conta que está aqui um link para a natureza do mal (anaturezadomal.blogspot.com). post sobre israel. ai estes macs

sexta-feira, julho 21

conversa de casa de banho

para quem, como eu, considera o bidé uma peça vetusta e inexplicável, apenas apropriada a ocupar espaço ou à demolha de peças de roupa, ténis, etc (espécie de alguidar com torneira incorporada), a sua inclusão nos sanitários de restaurantes, empresas e locais de trabalho em geral é um verdadeiro busílis.

qual será a ideia de quem inclui aquela peça no mobiliário das zonas de refrescação para empregados? será que as sanitas saem mais baratas se trouxerem um bidé atracado? e, se a ideia é fomentar a higiene global dos empregados, não seria mais apropriado um duche (e que falta faz nos dias de calor)? isto para não falar do facto de nunca ter visto, junto ao dito artefacto, nem sabão nem toalhas -- o que induz a ideia de que quem usa aquilo ou traz de casa o que falta ou sai dali a escorrer e francamente mal lavado.

é muito, muito estranho. e no actual momento de contenção financeira, não posso deixar de fazer contas ao que o país pouparia se os bidés fossem abolidos. nem sei como ainda ninguém se lembrou disso.

tungas

ah ganda bárbara. dá-les

wof! wof!

estivemos aqui no dn a examinar as novas regras vestimentares de admissão para jornalistas no parlamento da madeira e concluímos que ninguém está em condições de lá entrar. ou é pela sandálias e chinelas, ou é pelos ténis, ou é pelos jeans, ou pelas tshirts. ou seja: somos todos, segundo as doutas palavras do dr alberto joão, esse grande sinhor, culpados de"um desleixo que pretende igualizar, porém erradamente, por baixo, pelo rafeiro".

mas, após um breve inquérito, chegámos também à conclusão de que ninguém estava especialmente interessado em ingressar no edifício, assistir aos trabalhos parlamentares da ilha ou até em ser jornalista na madeira.

quinta-feira, julho 20

choque e pavor

o miguel, como sempre, na mouche. sobre israel, palestina, líbano e quejandos. e a demonstrar que a esquerda que os néscios gostam de apelidar de 'politicamente correcta', sem como sempre e como sobre tudo não fazerem a mínima ideia do que a expressão significa, está muito longe de funcionar em bloco.

pensar complica tudo, não é?

Playing with words...

... Googular - acto de procurar no motor de busca www.google.com

quarta-feira, julho 19

Vá lá, para lembrar o Francis

Eu gosto muito deste divertimento da dupla Chico-Francis Hime, o "Amor Barato", de 1981. Mas Francis fez com Chico coisas medonhas (e óptimas para entrar no futuro post Dor de corno e género em Chico Buarque) como o Trocando em Miúdos ou o Atrás da Porta.


Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Modesto

Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto

Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto

Vem cá, meu amor
Agüenta o teu cantador
Me esquenta porque o cobertor é curto

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Barato

Um tipo de amor
Que é de esfarrapar e cerzir
Que é de comer e cuspir
No prato

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

O Francis aproveita pra também mandar lembranças

Aliás, devia ir ali ao Maxime ver o Francis Hime e também não posso.

Dor de corno e género em Chico Buarque

Juro que me apetecia escrever um post assim. Estive um destes dias a ver, nos famosos vídeos, "A Rosa" pelo Chico e Djavan. A dor de corno e género em Chico Buarque é uma interessantíssima matéria. Mas não posso. Não posso já.

Beijos pró Nuno

Era só para mandar beijos ao querido Nuno Simas. Por causa daquilo do Carioca. (Ah, dava jeito pôr aqui umas fotos, para se ver como ele, velho e cansado, ainda é melhor que os exemplares aqui da Câncio)

azar ao nome

cremilde navalhinhas.

olhem, nem sei o que dizer. a não ser que de facto há pessoas com muito azar aos nomes. dei conta disso na lista telefónica. encontra-se com cada um. há uns anos, resolvi até fazer uma reportagem sobre isso, para a notícias magazine (link não disponível).

encontrei um panasca, vários palhaços, imensos malucos, um sacana (que dizia ser 'saçana') , chatos, ronhas, um ror de gente com apelidos levados da breca. um dos meus favoritos foi o 'ratinho maneta', acompanhado pelo 'capitão ratinho' -- parecia coisa de bd. a parte mais extraordinária da reportagem era o telefonema. tipo: 'está? fala da casa do sr maluco?'. ia tendo uma apoplexia de tanto morder o riso.

não estou a inventar: vão ao 118 da net e façam uma busca. o sr panasca era um amor. tinha noventa anos e um humor à altura do nome (não o deu à filha, porém). como cresceu numa aldeola do interior onde toda a gente tinha uma alcunha, e a da mãe dele era coelho, só descobriu o seu nome de registo quando foi para a tropa. 'foi na tropa que descobri que era panasca', dizia ele, a rir. e explicou que 'a culpa foi do sacristão' -- porque combinou com o pai dele que o último filho teria o apelido real do progenitor.

toda a gente que entrevistei se queixava do horror que é estar por exemplo na sala de espera do médico e ouvir, em altos berros, chamar o seu nome. é muito azar, de facto. pode ser que tenham sorte no amor, ou assim.

to rample, em todo o seu esplendor

rampling, rambling, gambling





ainda os nomes.

o francisco (cujo nome significa 'independente', 'livre') informa-nos de que foi criado um novo vocábulo, mais exactamente um verbo, a propósito do espantoso olhar da charlotte (a actriz, a actriz -- de o porteiro da noite, por exemplo). a ideia é boa e pode facilmente ter prolongamentos. to monroe, to bacall, to pfeiffer, to thurman. to fiennes, to toro. e, só para mim, e com estreia absoluta na colocação de imagens cá pela je, to byrne.

what's in a name

deve ser da season. encontrei uma lista infindável sobre significados de nomes. fiquei a saber, por exemplo, que sou (do alemão) um audaz e alto exército(noutras fontes comandante do dito) e (do latim) amante de poesia. uma guerreira romântica, é o que é. a borgesiana questão é se tinha escolha.

segunda-feira, julho 17

Cuida o que te digo, Ana Sá Lopes...

... soube de fonte segura que os bilhetes para os espectáculos do Chico Buarque, em Novembro, estão à venda a partir de hoje na FNAC.
Reservas pelo telefone: 707234234

Despeço-me com muita amizade,

Nuno Simas

sábado, julho 15

Palavra de jumento

Este texto é do Jumento. E parece uma caricatura das jumentices tradicionais sobre as mulheres na política.Atente-se nos itens que servem para o jumento avaliar Paula Teixeira da Cruz, a nova presidente da Distrital de Lisboa do PSD: jóias, maneira de falar, casamento, episódios de juventude, mais aquele coice do "menina ambiciosa e betinha". Há uma alusão a um "vazio de conteúdo", não explicado. O Jumento, mesmo conhecendo mal o candidato vencido, preferia o gajo. É sempre assim. Claro que o Jumento é de esquerda.

UMA MÁ ESCOLHA

Conheço mal o candidato vencido à distrital de Lisboa do PSD, mas dificilmente poderia ser pior escolha do que a menina ambiciosa e betinha que escolheram. A senhora é irritante na maneira de falar, no vazio de conteúdo e no exibicionismo de jóias caras. Não gosto desta senhora que nos tempos de juventude ainda levou um banho no tanque do liceu porque andava armada em revlucionária da Revolta Activa de Nito Alves, para depois se casar com um rapaz da extrema direita

sexta-feira, julho 14

estereótipo fracturante

e se de repente um homem vier buscar um gafanhoto gigante da secretária de uma mulher? poderá parecer simpatia, mas é bem capaz de ser uma demonstração da proverbial superioridade masculina, para não dizer mesmo a criação de um facto político com vista à produção de postas sobre a imutabilidade das características intrínsecas dos géneros e a adequação realista dos estereótipos.

agora a sério, pedro: nota que eu não exigi a presença de um homem. nem de um homem nem de uma mulher e muito menos aos gritos. limitei-me a sair da secretária o mais depressa possível quando descobri que aquele restolhar de asas que passara a milímetros das minhas costas se devia àquela enorme coisa saltadora e esverdeada que se postara no bloco de gavetas, a vinte centímetros das minhas pernas -- nuas (se estivesse de calças e camisa, como tu, e não com um vestido de alças e de chinelos a proximidade do bicharoco não me arrepiaria tanto. vai-se a ver e esta cena das mulheres com os gafanhotos, as baratas e coisas do género tem mais a ver com a roupa que com outra coisa qualquer. hum? esta foi boa). claro, evidentemente, é óbvio, etc, que se estivesse só arranjaria maneira de enxotar o bicho, mas como tu resolveste o problema escusei de ter essa maçada. foste muito querido. ou não foste?

tropical heat wave

ó, francisco. eu é mais banheira, piscina, alguidar, regador. à falta da maré baixa na fábrica. e marilyn monroe:


We're havin a heat wave
A tropical heat wave
The temperatures rising, it isn't suprising
She certainly can, can can!

She started a heatwave
By letting her seat wave,
in such a way that the customers say
that she certainly can, can-can!

Gee, Gee!
Her anatomy
Makes the mercury
Rise!
to ninety three
We're havin' a heat wave
A tropical heat wave

The way that she moves
The thermometor proves
that she certainly can!

"What's your name honey?"
"Pablo."
Certainly can
"Chico"
Certainly can
"Miguelito."
"Pablo, Chico, Miguelito"
OOOH! Can Can

"Pablo, it say here under 'weather report'
It's saying, a friendly warm air is
moving in from..."
"WHERE?"
"Jamaica- moderatly high air pressure will cover the north east and.."
"WHERE ELSE?"
"The deep south..
small danger of..."
"WHAT?"
"Fruit frost!
Hot and Humid nights can be expected!"
"Vincent 95, Guadeloupe 97, Santo Domingo 99. Pardon me? 105?"

We're having a heat wave
A tropical heat wave
The tempurature's rising
it isn't suprising, I certainly can- can!

I started this heatwave in such a way
that the customers say that I certainly can (can-can)
The man who need
Makes the mercury rise to 93

We're having a heatwave, a tropical, a tropical heatwave
the way that I move, that thermometer grooves
She certainly certainly certainly can
I certainly certainly certainly can can-can

Nota aos leitores

Atenção, senhoras e senhores leitores: o Glória Fácil acabou de se tornar ainda mais indispensável do que já era. Para V.Exa., que é maluquinha (ou maluquinho) por livros, e que gasta o que devia e o que não devia em aquisições bibliófilas on line, o Glória Fácil colocou a abrir ali a coluna do lado direito uma ligação à Abebooks, o melhor portal internacional de compras de livros. Pode digitar o nome da obra (ou a autoria) e ficar a saber onde pode comprar mais barato (ou mais caro, se preferir). Glória Fácil: um blogue ao serviço do Plano Nacional de Leitura ou lá como aquilo se chama.

"Tenho a lista em casa"

Eu juro que se fosse alguma vez entrevistado pela Maria João Avillez (com dois éles, ou mesmo três ou quatro) também dificilmente não me comportaria de forma arrogante e até mal educada. A impreparação é tanta, o manteiguismo besuntista atinge tais níveis, as banalidades sucedem-se a tal ritmo que só mesmo um entrevistado dispondo de níveis inumanos de autocontrole consegue não deixar de transparecer uma certa irritação com aquilo tudo. Reparem: não estou a dizer que a entrevista de ontem à noite na SIC foi difícil para o entrevistado (como por exemplo foram algumas de Constança Cunha Sá na TVI aos candidatos presidenciais). Pelo contrário: estou a dizer que foi uma passeata absoluta para o engº Sócrates.

Mas a velocidade das vulgaridades é tanta e o molho de manteiga em que aquilo tudo foi imerso é de tal maneira espesso que um entrevistado minimamente humano não pode deixar de se sentir incomodado. Para a história da entrevista deixo aqui um pormenor. A certa altura a "entrevistadora" perguntou ao primeiro-ministro sobre os obstáculos da maioria PS no Parlamento a iniciativas da oposição. Sócrates deu a resposta mais que previsível: pediu exemplos. A "entrevistadora" gaguejou, deu um único exemplo (o caso Eurominas) e depois acrescentou algo (sobre as iniciativas da oposição impedidas pelo PS) que devia ficar marcado para sempre na memória do jornalismo nacional: "Tenho a lista em casa."

Moral da história: há listas que não se devem esquecer em casa. As das perguntas e as do supermercado. Suponho que nem com umas nem com outras Maria João Avillez teve alguma vez de se preocupar. É coisa pró sopeiral. Mas para a próxima ponham a sua "fiel Sebastiana" a fazer a entrevista. Lá em casa é quem tem o departamento das listas e a sua própria patroa já por várias vezes atestou da sua competência.

PS. Por outras palavras: o que faz falta são entrevistas competentes ao primeiro-ministro. Por jornalistas de política competentes e até (ou mesmo acima de tudo) por jornalistas de economia competentes, que saibam do que falam (e não se esqueçam das listas em casa, já agora). Só não sei se o primeiro-ministro está para aí virado. Tenho dúvidas.

quinta-feira, julho 13

sabadabadu

juro que isto não é perseguição. mas a revista sábado anda a suscitar-me como que uma vontade irreprimível de postar. a capa desta semana é sobre 'como ficar 15 anos mais jovem'. estive a ler o texto e a fazer contas e descobri que fazia tanta coisa correcta do ponto de vista deles que corria o risco de involuir até à fase embrionária (o que à partida podia não ter mal nenhum, mas acarreta, como se sabe, o grande risco de ser alvo de experimentação desregrada por parte de cientistas malévolos e sem respeito PELA VIDA COM MAIÚSCULAS CLARO). mas o mais interessante vem no teste intitulado 'qual a idade do seu corpo?', em que entre perguntas sobre as 'doses' de nozes e peixe e fruta e legumes verdes que se deglutem diariamente mais os maços de tabaco consumidos o número de amigos 'próximos' (vá lá, não puseram 'pessoais', mas alguém há-de um dia explicar-me o que é um amigo 'distante' ou 'impessoal') vem uma sobre 'o seu estado civil', com as seguintes opções:

1 - casado e feliz (homem) (menos 1,5 anos)
2 - casada e feliz (mulher) (menos 0,5 anos)
3 - mulher solteira, homem viúvo (0)
4 - homem divorciado, mulher viúva (+ um ano)
5 - mulher divorciada (+ 2 anos)
6 - homem solteiro (+ 3 anos)

ficamos portanto a saber que:

só há casamentos felizes, mas no casamento os homens são mais felizes que as mulheres; que ser uma mulher solteira é igual a ser um homem viúvo e é igual basicamente a nada; que ser uma mulher viúva é igual a ser um homem divorciado, e ambas as coisas são más; que pior que uma mulher divorciada só um homem solteiro (excepto, presume-se, se se encontrarem e casarem e forem felizes para sempre, ele necessariamente mais que ela).

agora digam lá que não se aprendem coisas fascinantes na sábado

acho-lhe graça, prontoS

ao carlitos sobre o sis e a crítica literária

unidos pelo ódio

afinal, era assim tão simples acabar com os problemas entre as religiões. todos a lapidar panilas e fufas, já!

you don't always realize it

isto é do álbum (era assim que se dizia na altura) superman, aquele pelo qual conheci laurie anderson e que ganhei num concurso qualquer do som da frente do antónio sérgio. era e é uma umas das minhas faixas/líricas favoritas. com a 'i no longer love it' -- i no longer love the colour of your sweaters / i no longer love it / i no longer love the way you hold your pens and pencils / i no longer love it' -- uma espécie de haiku electrónico naquela voz exacta sobre o encantamento e o fim do encantamento, essa coisa a que chamamos amor. a outra

you're walking and falling -- at the same time. and you don't always realize it

é mesmo sobre tudo.

Imperdível...

... é o artigo de Pedro Mexia do DN sobre o debate do estado da Nação.
... Um excerto...
...
Nunca tinha visto ao vivo dois terços dos nossos eminentes deputados. Tomei algumas notas. O monárquico Pignatelli Queiroz estava mais imóvel que um marco de correio, à espera que lhe dessem a palavra para que se pronunciasse sobre a Patuleia. Nuno Melo lembra um entusiasmo de magala que vai às meninas.

Ler tudo aqui

quarta-feira, julho 12

Desculpas... (vi)

... para não postar... já não há. Amanhã há mais!

Desculpas... (v)

... para não postar... já não há.
José Sócrates acabou o debate, à hora dos telejornais, a responder à proposta do PSD de reforma da segurança social. Assim, Mendes "ganhou" o debate...
E José Sócrates, que tinha motivos para suar, já não estava a suar.

Desculpas... (iv)

... para não postar... já não vou mesmo tendo...

Agora está a falar Jerónimo de Sousa. O de sempre. O tom de voz... o de sempre.
Porque será que o tom de voz dos discursos dos dirigentes do PCP parece ser uma cópia (cassette!...) do tom de voz dos discursos de Álvaro Cunhal?

Desculpas... (iii)

... para não postar... começo a não ter.
Parece que o facto político - pela quantidade de vezes que José Sócrates já limpou a testa - é mesmo o suor do primeiro-ministro.
Não percebi é se a oposição está a pôr o primeiro-ministro a suar as estopinhas!...

Desculpas... (ii)

... para não postar. Mas parece que hoje não as tenho.
O debate está adormecente. José Lello bocejou quando Sócrates falou.
Marques Mendes hoje está titubeante.
O PM atirou uns quantos números e milhões para a arena (da política!).
E pronto.

Já volto.

Desculpas...

... para não postar. Hoje não posso porque estou a tratar do estado da Nação. Pela TV, parece que a Nação está a suar. Em bica.

terça-feira, julho 11

ô ô ô ô ôôô little china girl

já que ninguém mais posta nesta espelunca, aqui estou a fazer links para boas postas de outras freguesias. a desta rapariga, por exemplo. uma delícia (eu não dizia?)

zapatero olé

zapatero vale bem uma missa -- ou mesmo quinhentas.

mas o que é verdadeiramente fascinante nesta história nem é a coragem e integridade do primeiro ministro espanhol, de que já deu bastas provas. é mesmo, como bem sublinha a dina, a reacção despeitada da igreja católica ao facto de haver quem rompa a tradição do manter das aparências. onde é que andará aquela ideia de que a essência (alma) é que conta?

do amor ben(t)ito

é a natureza deles, luís.

(in)croyable

só há uma coisa boa nisto: é saber que não é só em portubol.

postimatum

eh, gajada! estou de faxina, é? não há vergonha? não sei se alguém está de férias -- mas há pelo menos uma pessoa que vejo a cerca de dois metros, à frente de um computador e tudo -- e nada

segunda-feira, julho 10

there will never be another you

o chet, no vidro duplo.

todas as letras

a blogosfera é realmente um sítio muito curioso -- como o mundo. notei ultimamente (graças ao google e ao technorati e às pesquisas egocêntricas que permitem) a existência de uma série de blogues que se intitulam cristãos e dizem bater-se pelos valores que isso implica.

a primeira nota relevante é a sanha (ou senha) persecutória que a maioria desses blogues evidenciam em relação a tudo e todos que não se conformem com a sua peculiar visão. a segunda é a forma como, mesmo quando querem dar ares de tolerância, mais não fazem que sublinhar o seu ímpeto de exclusão.

dei por exemplo com um texto absolutamente imperdível sobre a série the l word, que passa todos os dias na 2: às oo.30. para começar, o senhor em causa diz que não viu 'as cenas chocantes' de que lhe tinham falado, mas mesmo assim acha muito mal que aquilo passe em sinal aberto (conselho: dê uma voltinha nas novelas portuguesas, sobretudo naquelas para adolescentes, e depois conversamos -- pensando bem, converse antes com outra pessoa) porque: 'as lésbicas são todas giríssimas'; 'a série é limitada no drama humano'; 'aquilo pode levar uma mulher -- sobretudo, diz ele, as mais jovens -- a ficar lésbica'.
lá pelo meio destas reflexões que lhe foram suscitadas pela visão de um único episódio da série, questiona, pungente: 'quem é que no seu perfeito juízo, gostaria que as suas amigas, mulher, filhas, mãe e avó, fossem lésbicas?'

eu até o percebo: realmente assim de repente descobrir que a avó e a mãe -- para não falar da mulher -- eram lésbicas pode ser um xuto na tola. sobretudo porque, sendo as coisas como são, o mais certo é que as ditas senhoras tenham passado a vida a esconder o tal facto (isto partindo do princípio de que há pessoas 'lésbicas', que é sempre duvidoso -- mas enfim, isso já é uma conversa demasiado complicada para esta posta).

mas também o incomoda que as amigas gostem de mulheres? e que as mulheres que fazem de 'lésbicas' na série sejam todas 'gisíssimas' (ao contrário das mulheres que nas séries fazem de 'hetero', que são todas medonhas, como se sabe)?

esta é boa. queria o quê, uma série povoada de gordas com bigode e cabelo rapado (que deve ser como imagina as suas lésbicas -- onde é que esta gente tem andado)?

o melhor, porém, é decididamente essa ideia de que ver uma série daquelas pode levar alguém a dar o 'mau passo'. aconselha-se a este sr -- e a todos e todas que pensam (?) como ele -- a ler uns relatórios sobre sexualidade (ou mesmo o diário de anne frank). chegarão à conclusão de que não é despiciendo o número de jovens do sexo feminino que têm experiências sexuais com amigas -- o que certamente fará delas umas perdidas na acepção tão tolerante destas pessoas mas, lamento informar, não as transformou em lésbicas empedernidas.

quanto à questão de fundo -- porquê admitir a exibição de uma série 'destas' em sinal aberto e numa tv estatal, a resposta deveria ser evidente: porque até existirem séries como esta a programação de sinal aberto dava uma imagem do mundo aos tais 'mais novos em período de descoberta da sua sexualidade' que apresentava o relacionamento heterossexual como o único figurável. para o caso de estes cristãos nunca terem pensado nisso, esse facto era (e é) mais uma fonte de sofrimento para aqueles estão a descobrir ou já descobriram outro tipo de relacionamento.

mas enfim: que me terá dado para pregar aos peixes? deve DE ser do excesso de uv na moleirinha.

são como as ameixas. ou as cerejas, ou os figos, ou os diospiros. mnhãm

nem mais, luís.

são nossos filhos, são, sr. padre. e seus

Se fossem os vossos filhos, faziam isto?” A frase, dirigida aos jornalistas que seguem o julgamento dos jovens responsáveis pela tortura e morte da transexual sem abrigo Gisberta, é atribuída pelo Público a um padre da Oficina de São José, a instituição católica a que estava entregue a maioria dos ditos jovens.

A mesma Oficina que, após um inquérito interno ordenado pela diocese do Porto, concluiu que as acções dos jovens não podiam de modo algum ser responsabilidade da instituição onde residiam – porque, explicava-se, esta tinha como missão “educar para a vida” e não reabilitar delinquentes, reagindo ao facto de pupilos seus terem sido indiciados pelo espancamento, tortura, violação e homicídio de uma pessoa como se os jovens em causa não lhe fossem nada – muito menos seus filhos.

É o tipo de reacção que se poderia esperar do tipo de famílias ditas “disfuncionais” que as narrativas em geral e as católicas em particular costumam atribuir todos os males do mundo, a começar pela delinquência juvenil. As tais famílias que transmitem “valores errados” e não propiciam “o ambiente adequado ao desenvolvimento harmonioso da crianças”, deixando-as “ao deus dará”. Mas é de quem teve essa reacção que vem agora, em nome de um sentimento de paternidade que vê qualquer interesse pelo processo como uma agressão, a censura aos jornalistas.

Um sentimento que, de resto, ecoa na decisão do tribunal de efectuar o julgamento em segredo absoluto, limitando-se a informação veiculada aos jornalistas por um funcionário expressamente destacado para tal pelo Conselho Superior de Magistratura a assinalar quem é ouvido em cada dia. Há uma diferença entre realizar um julgamento à porta fechada, para proteger a identidade e a “tranquilidade” dos menores, e impedir que a opinião pública tenha conhecimento do teor das audiências. Que valor se visa proteger com esta decisão?

Querer saber o que estes jovens fizeram e o que pensam do que fizeram não é uma manifestação de curiosidade mórbida ou de sensacionalismo. É, mais do que um direito (e é um direito, por mais que custe aos senhores juízes), um dever – um dever doloroso e terrível mas absolutamente necessário. Como é terrível e doloroso mas necessário encarar de frente e sem tergiversar o horror do que aconteceu à sua vítima.

Mas o sistema judicial escolheu outro caminho. Apesar de a investigação ter determinado que, após terem passado dois dias a espancá-la e a violá-la (crime do qual não são indiciados) e de terem tentado pegar-lhe fogo, os jovens ouviram a vítima pedir ajuda antes de a deitarem ao fosso de mais de 15 metros onde morreu afogada, a opção foi julgá-los por homicídio “na forma tentada com dolo eventual”, assumindo que não tiveram a intenção de matar e não consumaram o homicídio.

“Uma brincadeira que correu mal”. Ouvida primeiro a responsáveis da Oficina, os tais que “educam para a vida”, a frase volta agora pela boca dos jovens, parece, e dos seus advogados. Fosse a vítima uma criança ou um padre – e não a transexual, sem abrigo, toxicodependente e prostituta que era – ousar-se-ia falar assim do que lhe fizeram?

Dizer que o massacre e a morte de Gisberta foi uma brincadeira, à laia de desculpabilização caridosa dos “miúdos” que “podiam ser nossos filhos” é uma obscenidade do domínio da cumplicidade e da autoria moral. Lembre-se que torturar e matar “por gozo” é aquilo que supostamente fazem os psicopatas. Os tais que, explicam os psicólogos criminais de serviço no caso de Santa Comba, não sentem remorsos nem culpa e retiram prazer do sofrimento. Os tais que, como disse ao DN o pároco da terra, fazem parte do “mistério que é o homem” e “só Deus pode compreender”. Os tais monstros com os quais nada queremos ter a ver, ao contrário dos jovens que no tribunal do Porto são julgados em segredo. Porque esses, além de filhos de deus, são nossos filhos também.

(texto da coluna contra os canhões, publicado no dn de sábado. como não figura na edição on line, aqui está ele -- com capitulares e tudo)

domingo, julho 9

sem titulo (literalmente)

esta cena portubol aparvalha-me beyond words

quinta-feira, julho 6

último almoço

a revista sábado revela hoje ao país que a última refeição de freitas do amaral enquanto ministro dos estrangeiros foi uma dourada escalada 'a dividir por três' e uma garrafa de tinto monte velho, esse grande néctar geralmente preferido nas festas de anos de estudantes. a notícia diz também que carneiro jacinto entornou a garrafa. costuma ser sinal de boa sorte mas, neste caso, pode ter sido só uma medida sanitária.

Os ossos do nosso rei (actual.)

Equipa vai estudar ossos de D. Afonso Henriques

O túmulo de D. Afonso Henriques vai ser novamente aberto, esta quinta-feira, em Coimbra, na igreja do Mosteiro de Santa Cruz. Uma equipa de cientistas vai tentar desvendar os mistérios que ainda envolvem o primeiro monarca português através do estudo dos seus ossos.
(Retirado da TSF)

Acho isto uma falta de respeito inacreditável pela memória do nosso rei fundador que bateu na mãe e depois fundou esse lindo país chamado Portugal!

Segundo a Lusa,

Os especialistas espanhóis trouxeram consigo um aparelho que permitiria "reconstituir o corpo de D. Afonso Henriques a três dimensões".

E ainda por cima queriam brincar aos bonecos com o fundador da nacionalidade...

quarta-feira, julho 5

Felipão (iii)

Há dias falei com um cidadão com responsabilidades no Governo PSD/CDS. Sobre o Mundial. Ele lembrava-se do Euro-2004. E lembrou-se que o PSD e o CDS perderam as europeias desse ano.
Ainda que, como é óbvio, o PSD não tenha perdido as eleições por causa da "bola"... Mas ele há mentes muito tortuosas!...
(O que vale ao engº José de Sousa é que não há eleições ao virar da esquina!)

Felipão (ii)

Agora, o engº José de Sousa que se cuide.
Se a TVI for amanhã fazer umas entrevistas de rua, o engº José de Sousa arrisca-se a ouvir que a culpa foi dele... No mínimo, a culpa é do Gilberto Madaíl... e do Laurentino Dias...

Felipão

Obrigado, Felipão. Foi pena... estivémos a um passo da final. A sorte que tivemos contra a Inglaterra falhou-nos contra a França.
Agora é acabar com a cerveja e as salsichas!

chega

já foram ditas todas as palavras para acabar com esta obscenidade. agora só falta acabar com ela.

liars like us

vienna para johnny, no melhor filme de nicholas ray, que é também um dos melhores filmes, period. pequena dúvida: há uma versão em que a a resposta dela ao 'quantos homens esqueceste' é 'as many women as you, remember?'.

terça-feira, julho 4

Dúvida que presentemente me atormenta

Faço o jantar para a criança antes do jogo [Alemanha-Itália] ou no intervalo? E dou-lhe banho?

Pão, circo e blogosfera

O governo está mesmo a ganhar com esta história do Mundial. A blogosfera política dedica meia dúzia de palavras à remodelação e algumas dezenas ao escrutínio do jornalismo. Sócrates agradece-lhe, dr. Pacheco Pereira.

segunda-feira, julho 3

organizem-se, pázinhos

a segunda feira é o dia de seven feet under na 2:-- facto incontroverso, apesar de nos terem morto o nate (o que, convenhamos, não é realismo, é mesmo hiperrealismo). séries boas nos canais abertos de tv são uma absoluta raridade de modo que não é difícil aos espectadores, mesmo que relapsos como eu, fixar o dia em que não se marcam jantares.

pois bem, parece que lá na rtp têm menos atenção que eu à programação e resolveram colocar, no mesmo dia e à mesma hora, uma série no canal 1 com a chancela da bbc e com o dylan mcdermott (do the practice). cum caraças, isto faz-se? é que, reparem, tinham praticamente a semana toda, com excepção da 4ª feira, para enfiar aquilo e zungas, vai de largar a coisa em cima dos sete palmos.

i shall say this only once, malta da rtp: é suposto fazerem contraprogramação é contra a tvi e a sic, ok? não contra os vossos espectadores. vejam lá se atinam.

Política e futebol - comentário "à taxista"

Se Portugal for à final do Mundial2006, no domingo, é preciso acompanhar estar muito atento a José Sócrates... não vá ele fazer mais uma remodelação.
Com a bebedeira futebolística (lá vem o comentário "à taxista" do dia...), o Governo pode aproveitar para fazer umas malandrices.

Ao invés, se Portugal perder, lá regressa a choradeira. Passa a ressaca ao povo e, pronto, serão o Governo e José Sócrates a levar "pancada"... (segundo comentário "à taxista" do dia...)