O
Expresso enganou-se. Só com doses cavalares de boa vontade poderemos considerar que Cavaco Silva "puxou as orelhas" aos deputados no discurso que fez ontem no Parlamento. Aliás, o PR até disse, como que se justificando perante o semanário, que a "credibilidade do nosso sistema político" poderia ser um tema - só que ele achou que não deveria, preferia antes "lançar um olhar sobre a nossa sociedade".
O fracasso da notícia levanta o problema do jornalismo de antecipação, que se pratica muito na política (e também na economia, e aqui até com verdadeiras consequências económicas, que no jornalismo político não acontecem).
Defendo o jornalismo de antecipação. Em tempos ultra-concorrenciais como os de hoje, jornalismo político a sério num jornal (é de jornais que falo) não sobrevive sem antecipações. Um jornal, pelo menos, não sobrevive - e isto se quiser ter algum crédito enquanto produtor de jornalismo político. Às vezes, perante acontecimentos de agenda que serão merecedores de extensiva cobertura televisiva - e sabendo-se, portanto, que no dia seguinte dificilmente os jornais poderão dizer algo de verdadeiramente novo - a antecipação é o único valor noticioso acrescentado que um jornal pode dar aos seus leitores. Não o fazer implica, num jornal, subordinar-se ao esmagamento televisivo, ou seja, resumir-se a um jornalismo de acta (por mais colorido que seja) e pouco mais. O respeito dos jornais pelos seus leitores passa sobretudo pela vontade de lhes dar
novidades, ou seja, contar-lhes coisas que não sabiam.
Agora, tenho perfeita consciência que o jornalismo de antecipação é altamente arriscado. É talvez aquele onde o problema da confiança nas fontes mais se coloca - e aqui, obviamente, não pode haver fontes reveladas, só anónimas. O que aqui conta é a ponderação do risco que se assume, o que passa por saber exactamente qual o grau de informação que a fonte detém. E esta ponderação só pode ser feita de forma sensata e fria - no fundo é de sensatez e frieza que falamos - quando está liberta de condicionamentos como editores e directores que só querem a notícia "dê lá por onde der" e de páginas que têm de ser preenchidas "custe o que custar", que é precisamente aquele ambiente de redacção em que se fazem mais asneiras.
Por outras palavras: jornalismo de antecipação não se compadece com jornalismo de salsicharia. Exige muita experiência de quem o faz; exige que quem o faça tenha suficiente peso na sua redacção e perante os seus chefes para poder dizer "não, não há notícia"; exige ainda mais experiência de quem o edita; exige, enfim, a sensatez minima de se saber que não se fazem antecipações com a antecedência com que o
Expresso fez esta.
Por mim, lembro-me sempre do que me dizia o meu principal professor de jornalismo, Fernando Cascais: "Na dúvida, não escrevas." Lembro-me sempre quando, na dúvida, escrevo. Raras são as vezes em que não me estatelo.
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