O óbvio revelado em toda a sua brutalidade: a coligação EUA/Reino Unido soube preparar e concretizar a invasão do Iraque mas não soube nem preparar nem concretizar o pós-guerra (aliás, duvido que se possa falar em "pós-guerra", os factos recentes provam que se continua em guerra).
Disto isto, nem era preciso apostar que esta constatação seria interpretada pelos
defensores da invasão como uma manifestação de alegria pelo horror que os atentados provocaram. Para esses, pessoas como eu estão neste preciso momento, secretamente, a celebrar em várias casas do país, num estado de felicidade suprema - mas silenciosa, para os vizinhos não acharem suspeito - as mortes de Bagdad e Israel. Porque somos da esquerda pindérica, só bebemos SuperBock e Raposeira. Alimentamo-nos de "pistachios" importados do Irão. Whisky é proibído. Só do irlandês, por respeito ao IRA.
E agora pergunto eu: não será possível falar sobre o que se passou ontem – e sobre as suas razões – com uma pontinha de sensatez? Será possível, pergunto eu, fazer, sem ser acusado de terrorista, um raciocínio suficientemente dinâmico que admita os três seguintes pensamentos, a saber:
1º – A culpa absoluta dos atentados de ontem é dos terroristas que os perpretaram;
2º – A coligação soube fazer a guerra mas não está a conseguir a paz.
3º - Estava na cara que isto iria acontecer, pela pressa imensa que os EUA mostraram nos preparativos da guerra.
Ou seja: o que é que eu preciso de dizer e fazer para, ao fazer estas constatações, não ser acusado de terrorista ou idiota útil ou cobarde ou tudo-ao-mesmo-tempo? Será possível ser um moderado? Porque é que as pessoas que mais audivelmente defendem, em Portugal, as posições de Israel e dos EUA, só o fazem por adesão cega à extrema-direita dos respectivos regimes políticos? Enfim: porque não se dão ao trabalho de ser algo mais do que luso-papagaios pavlovianos dos actuais governos de Telavive e Washington?