Já me tinha acontecido em Timor, em Setembro de 1999. Levava de Lisboa, na memória, horas de imagens e rios de palavras que descreviam a destruição do território pelas milícias/tropa indonésia no pós-referendo. Mas nada me preparou para o que vi. Tudo - rigorosamente tudo - queimado, à bruta, à pressa. E quando chegou a hora de passar para a escrita, fui confrontado com a extrema dificuldade (para não dizer impossibilidade) de descrever o que via. Impotência, enfim. Resolveu-se dois meses depois, no regresso a Lisboa. Passei meses a falar do assunto, a tentar descrever (aos amigos e a quem me ouvia) a dimensão do horror que percorreu aquela metade de ilha. Ainda agora, quando o assunto vem à baila, é difícil calarem-me.
Hoje voltou a acontecer o mesmo. Vou a Mação (Santarém). E, no caminho, pela A23, percebo que nada do que li nem nada do que vi nas televisões consegue descrever o que ali aconteceu. Na vila encontro o
Colaço, que é da terra. Ele não se cala com os incêndios. Entendo-o como ninguém.