Meu caro Francisco José Viegas,
Nem sei bem por onde começar. Bem, talvez por te dizer que andei quatro dias fora e só agora te respondo porque só agora tenho acesso a um computador. Mas vamos ao que interessa.
Lendo agora o teu
“Riso” constatei uma evidência: a agressividade. Ou, por outras palavras, o tom azedo da coisa. Mas sabes, se há uma coisa que me aborrece aqui (na blogosfera) ou na sociedade portuguesa em geral é a mania de que as polémicas nunca podem azedar. Tem de ser tudo tratado com paninhos quentes, não vá ninguém ofender-se, e é muito fácil as pessoas dizerem-se ofendidas e insultadas e por aí adiante, como se fossemos todos florzinhas de estufa. Faz-me lembrar os inúmeros debates parlamentares a que já assisti, em que por tudo e por nada se invoca a “defesa da honra”. É só um estratagema argumentativo, tudo menos genuíno. Serve isto para te dizer que não me sinto insultado por me teres chamado o que chamaste. Foi uma resposta ao que eu escrevi sobre os teus “posts” pós atentados de Bagdad e Jerusalém. É natural, encaro-o assim.
E o que eu escrevi resultou de um único texto teu, “postado” a 19 de Agosto (dia dos atentados) contra “
os que se riem a cada atentado, os covardes de todas as tendências e relativismos e idiotas úteis em quase todas as circunstâncias, chorarão em público — mas, intimamente, sorrirão e terão os sarcasmos do costume. Sorriram a propósito da devastação que os «heróis fedayin» lançam nos poços de petróleo e nos oleodutos; sorriram a propósito de cada soldado americano morto; tal como sorriem a cada vítima dos seus heróis armados e preparados para morrer e matar.”
Eu enfiei a carapuça! Pois é! Porque, em parte, já esperava que tu lançasses este argumento perante todos os que afirmassem – e eu só o fiz face ao atentado de Bagdad, não ao de Jerusalém – que o que aconteceu na capital iraquiana era previsível e resultava de uma evidência: a coligação foi eficaz a fazer a guerra mas não o está a ser a controlar o país.
Ora, isto chateia-me! Chateia-me porque é injusto. Quem tenta ser moderado nesta questão é logo chamado de “
idiota útil”, “
covarde”, e mais uma série de alarvidades. Não era de mim que falavas? Admito. Mas eu, à mesma, enfiei a carapuça. E respondi, à letra. Aquela do “
luso-papagaios” é bruta? Pois é! E a reincidência também? Sim. Mas o que queres? Não gosto de me sentir chamado de “
idiota útil” e “
cobarde”
and so on, and so on.
Porque, como também já escrevi no Glória Fácil (GF), numa suave polémica com o
Mar Salgado, a impossibilidade de ser moderado face ao problema do Médio Oriente representa, para mim, a impossibilidade da inteligência e da racionalidade. Eu quero muito, neste assunto, ser moderado. Recuso que a minha moderação me leve a ser sempre considerado um apoiante do terrorismo.
No teu “Riso” recordaste textos teus no JN críticos de Sharon. Escreveste, por exemplo, que ele é uma das “
peças do mal que anda à solta no Médio Oriente” e “
uma das figuras que não ajudará muito a estabelecer a paz no Médio Oriente”.
Mas agora pergunto-te: Alguma vez escreveste que é rigorosamente impossível a paz no Médio Oriente com Sharon a primeiro-ministro de Israel? Ou que a paz no Médio Oriente passa, necessariamente, pela democrática eliminação de Sharon como figura de primeira grandeza em Israel? Ou seja: as tuas críticas a Sharon são absolutamente inconsequentes. E, sendo assim, é como se não existissem.
Queixas-te por só me ter dirigido a ti e não a outros blogues por onde o mesmo género de argumento passou. Fi-lo porque te conheço e conheço os teus argumentos, precisamente das nossas discussões no sítio do costume, ali à esquerda de quem desce e à direita de quem sobe. E, sendo nós, como tu disseste, “bons camaradas”, temos sempre a possibilidade de, cara a cara, nos recompormos dos abalos desta polémica, sob o alto-patrocínio, por exemplo, dos senhores Justerini e Brooks.
Saudações bloguísticas do JPH
PS – Disseste ainda que só me dirigi a ti por “
querer conversa”. Noutra “posta” responderei.