Livro escolhido para uma viagem que já foi e já veio:"Koba o terrivel", de Martin Amis (Teorema). A leitura inicia-se ainda antes de levantar vôo. A propaganda apresenta-o como sendo um retrato da vasta condescendência intelectual europeia com o horror genocida do "comunismo real" soviético, personalizado em Estaline, "Koba o Terrível".
[Interessa-me o tema. Céline, génio da minha adoração, foi vítima dessa condescendência, embora isso não lhe desculpe as alarvidades anti-semitas que comecou a vomitar após a "Viagem". Mas Céline não alinhou nisso - nessa condescendência pró-soviética - e a "intelligentsia" francesa dominante nunca lho perdôou. Levaram-no ao colo até Moscovo após o êxito da "Viagem" porque pensaram que ele era de "esquerda". E depois, espantadíssimos, verificaram que o ingrato médico-escritor-herói medalhado da I Guerra veio de lá a dizer horrores daquilo. E como ele sabia dizer horrores!
Disse, por exemplo (cito de memória) que "escolher entre o comunismo e o nazismo é escolher entre a peste e a cólera". É nessa posição que me coloco. Sem, portanto, desatar a espumar de raiva quando alguém diz que o comunismo soviético foi pior, em mortandade provocada, do que o nazismo.
]
Regressemos a Amis. Ele não nos engana. Logo nas primeiras páginas admite o livro como um "panfleto". Mas antes, nas suas rigorosas frases iniciais, recorda a forma como Robert Conquest (autor, segundo Amis, da mais importante obra ocidental de denúncia do estalinismo, em 1968) conseguiu expressar aos seus leitores a dimensão do horror.
É assim: estabelece-se uma cifra total para o número de vítimas do terror estalinista; depois divide-se esse número pelo número de letras do livro (vinte mortos por cada letra, por exemplo). E a seguir atiram-se uma série de frases com respectivo "balanço" em perda de vidas humanas.
"
Comia-se estrume de cavalo, em parte porque muitas vezes continha grãos inteiros de trigo (1502 vidas)."
ou
"
Oleska Voitrikhovski salvou a sua vida e as das suas famílias...consumindo a carne de cavalos que tinham morrido na herdade colectiva de mormo e outras doenças (2560 vidas)."
ou
"
E os rostos das crianças estavam envelhecidos, atormentados, como se elas tivessem setenta anos. E na Primavera já não tinham rostos. Não, tinham umas cabeças de pássaros com bicos, ou cabeças de sapo - lábios finos, compridos - e algumas delas pareciam peixes, com as bocas abertas (4720 vidas)."
Assim percebe-se, de facto, a dimensão da coisa. Mas a honestidade obriga a dizer que se está apenas perante um truquezinho infraliterário - quanto muito panfletário ou jornalístico. Seja como for, perdoando avançamos. Já pré-avisados para outros acidentes.
Nota: A blogosfera tem este encanto. Pode-se comentar um livro quase página a página. Talvez volte a "Koba o Terrível". Do livro já não desgrudo. É sempre assim com este Amis, desde os tempos do "Money".
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