O Daniel escreveu
aqui umas larachas sobre o Canal 18. No essencial até concordo. Mas aquilo parece-me um bocadinho inconsequente, ainda por cima num dirigente de um partido – o Bloco de Esquerda – que tem protagonizado algumas causas supostamente “fracturantes”.
Imaginemos a seguinte situação: em vez de existir o 18 existia, isso sim, um canal “gay” que, às quintas, sextas e sábados exibia, depois da meia-noite, durante duas horinhas, pornografia homossexual.
Imaginemos, a seguir, que o Governo fazia com esse canal o mesmo que fez com o 18: codificava-o. Ou seja: impedia-lhe o acesso pelas “massas populares” que assinam, sem “boxes” extra, a TV Cabo.
Não tenho a menor dúvida (repito: a menor dúvida) de que o BE faria de imediato uma imensa barulheira alegando (e com toda a razão) censura, discriminação sexual contra os “gays”, etc, etc.
Mas quanto ao Canal 18 já não faz. Porque estrebuchar em defesa daquele canal não se enquadra no contexto “politicamente-correcto “gauchiste” que caracteriza muitas das atitudes do Bloco. Isto apesar de o BE saber que a atitude censória deste Governo face ao 18 representa um precedente muito perigoso. (Como já aqui disse, o Governo agora tem autoridade, reforçada pelo silêncio de quem devia protestar, para censurar outros supostos pornos na televisão e até para achar que “O Império dos Sentidos”, por exemplo, se enquadra nesse ‘sector’ da produção cinematográfica).
Enfim: codificar o 18 é para mim uma atitude própria de alguma direita burra que, à pala de uma moralidade balofa, bafiente e calhorda, acaba por induzir à rentabilização da indústria porno.
Não contestar essa medida do Governo, por medo (por exemplo) do ridículo, é próprio de uma esquerda tão pouco inteligente como a referida direita. Os extremos tocam-se.
PS – Meu caro, estou certo que entendes esta posição no quadro mais vasto de uma causa muito cara ao Bloco: a da despenalização “versus” proibição. É também por isso que este debate me interessa. E, claro, porque me agradava a ideia de poder ver uns pornos tendo a certeza de que não estava a contribuir para pagar a respectiva produção. É o que vai acontecer, a partir de agora.