Eis-me de volta ao caminho. Mas desta vez é diferente, um bocadinho diferente. Já disse a amigos: "Vou voltar a ver a minha terra." Soa-me bem dizer as coisas assim. Mas só o faço pelo efeito. Conforta os outros saberem que temos uma terra, uma família, um clube de futebol - passado, presente, futuro. Mas nem aquela terra é minha nem eu sou dela. Não me é nada. Talvez passe a ser, agora que a revisito, quase trinta anos depois — mas era melhor não.
Mesmo assim levo referências: "R. Fernão Lopes, nº 3, paralela à Av. dos Combatentes". Os nomes devem ter mudado. A casa provavelmente já lá não está. Era melhor que assim fosse. Haveria a certeza que aquela já não é "a minha terra". As minhas terras sempre foram só as minhas casas. As pessoas lá dentro, e pouco mais.
E se o bagageiro do hotel (ou outro funcionário qualquer) me disser:
— Isto estava melhor com os portugueses...
Se calhar reforço-lhe a gorgeta; ou se calhar recuso-a - depende de como ele o disser. O melhor mesmo era que não o fizesse. É o mais provável, se bem conheço o orgulho angolano. Angola é deles, e assim é que deve ser.
JPH