Não te acontece o mesmo, minha cara? Andas semanas e semanas, meses por vezes, uma imensidão de tempo a folhear livros atrás de livros e não há nem um que te agarre? Sim, que te agarre, que te prenda, que te fixe, que te impeça de o largares, que não te deixe fugir? É uma angústia, não o sentes? Eu sinto. Mas já adoptei uma solução: a culpa é dos livros. Estão mal escritos, ponto final. Ou não estão escritos para mim, parágrafo.
Nessas alturas apetece-me, sempre, voltar às minhas adorações: a "Viagem" do Céline, o Eça (quase tudo, a começar pelo "Crime do Padre Amaro"). Mas agora não posso, desconheço-lhes o paradeiro - mudanças de casa, livros encaixotados, sabes como é.
Eu andava nisto há semanas, desde o "Koba o Terrível", do Martins Amis. Mas ontem acabou-se. Numa edição de bolso da D.Quixote encontrei o "Cândido", de Voltaire. Derreteu-se a angústia num segundo. Estás contente por mim?