...conhecemo-nos em 1980, tinha ele morrido há nove anos.
O encontro deu-se numa das docas de Belém. Eu e amigos preparávamos o velho Barco Íris para nos fazermos ao mar. Um veleiro sensacional, de madeira, metia água por todo o lado, com vela de carangueja e totalmente desprovido de molinetes. E estava nisto quando se ouviram uns acordes de piano eléctrico no ar. Um piano rodeado de chuva e longínqua trovoada.
Riders on the storm
There’s a killer on the road...
Informei-me
- Quem são estes?
O meu irmão, escandalizado com a pergunta – como era possível tanta ignorância? - rosnou
- São os dóres
E assim fomos apresentados.
O passo seguinte dei-o com o meu pai. Perguntou-me que prenda queria para os anos. “Um disco”, mas não disse qual e ele também não perguntou. Fomos a uma discoteca, eu corri para os “Dês”, e tirei o primeiro que me apareceu.
- É este.
E o meu pai pagou. Depois queixou-se do preço. Só nessa altura reparei que tinha tirado um disco duplo, o “Absolutely Live”.
Quando o pus a tocar detestei. A única música minimamente aceitável, para os meus ouvidos então ultra-sensíveis, era o “Alabama Song”, da dupla Brecht/Weil
Oh show me the way to the next whiskey bar
Oh don’t ask why, oh don’t ask why
Com o tempo fui aprendendo a ouvir o disco. E comprei outros. Toda a discografia. E biografias da banda. Hoje sei que partindo disso tudo cheguei a Baudelaire, a Verlaine, aos “Cantos de Maldoror”, a Rimbaud, a Céline.
Não há portanto perdão para
a vigarice que se prepara para os dias 6 e 7 de Dezembro, no Pavilhão Atlântico. Quem lá for escusa de ser leitor do Glória Fácil. Não quero audiência dessa.