Posso fazer literatura com isto. Posso indignar-me. Posso perguntar: que raio de país é este – e preencher o resto da frase com pontos de exclamação e interrogação. Posso até dizer: um homem faz-se fazendo um filho, plantando uma árvore, escrevendo um livro, visitando Auschwitz – mas, se tiver que escolher, que visite Auschwitz.
Posso tudo, e até contar que hoje ao almoço bebi dos melhores tintos nacionais, “Pinheiro da Cruz”, vinho produzido na prisão que lhe dá o nome. E que no rótulo se lê que “
a sua alma nasce de sentimentos que os reclusos põem neste trabalho que os liberta”. Trabalho que liberta, trabalho que liberta, isto recorda-me qualquer coisa – “
Arbeit macht Frei", se não me engano. Há horrores escondidos onde menos se espera.