Lux - Perante as imagens e perante o que foi dito, a conclusão que se tira
é que foi, de facto, um casamento de ostentação?
Tchizé dos Santos - Muitas vezes o bom gosto é confundido com opulência e
com arrogância. Hoje qualquer pessoa pode ir à Zara e ficar mais bonita
que outra que vista Chanel. Quando as pessoas têm bom gosto e têm prazer
em viver podem criar coisas maravilhosas que passam por eventos magníficos
de um milhão de dólares. De resto, já é a segunda vez , que alguém diz que
um evento de minha iniciativa custou um milhão de dólares. Ainda bem que
tenho criatividade e ideias de um milhão de dólares para cima sem os
gastar.
Lux - Foi um casamento pago com o dinheiro do Estado?
T.S. - A Júlia Pinheiro escreveu que Angola é um país onde os governantes
se servem do Estado. Não é assim. O meu pai é um homem que serve o seu
Estado e que o faz com sabedoria e fidelidade. É realmente muito
complicado ver o seu nome envolvido em mentiras. Ver-se criticado por
pessoas que desconhecem a sua trajectória intelectual, os seus valores
morais e éticos. Pessoas que desconhecem como é pacífico e moderado. Que
desconhecem a sua simplicidade e a sua capacidade de trabalho.
Lux - E afinal quem pagou o casamento?
T.S. - O conceito de família em Angola é diferente do português. Em
Portugal cada família tem em média dois filhos. Só a minha família materna
até ao segundo grau são 150 pessoas, a paterna outras 150. Mais os
convidados do noivo e família, os amigos, colegas da faculdade... Não é
difícil perceber que vão ao casamento seiscentas e tal pessoas. Lá, é a
família que paga o casamento. Toda a família trabalha, têm os seus
negócios... Acho que uma família de 300 pessoas paga bem um casamento...
Além disso, eu e o meu marido temos re ndimentos, também trabalhamos. Não
estamos em casa a olhar para o céu. Depois há a minha mãe, uma consultora
extraordinária, uma mulher brilhante, que sempre me disse que se o meu pai
não fosse quem era e se eu não tivesse tanta preocupação em zelar pela
imagem dele, ela me fazia um casamento de sete dias, com o melhor
possível... Porque é uma mulher que trabalhou a vida toda e só tem uma
filha. Aí é que iam ver o casamento que eu ia ter.
Lux - É inevitável que se pense como é possível fazer um casamento
daqueles com a situação em que o país se encontra...
T.S. - É verdade, há pessoas com muitas dificuldades. Mas, se ao invés de
procurarmos e inventarmos falhas na sociedade e na economia angolana,
enfatizássemos o facto de Angola ser uma economia em franca expansão, com
empresários capazes e um país excelente para fazer investimentos, talvez a
miséria acabasse mais depressa. Claro que há muita coisa por mudar, mas
Angola precisa de receber investimentos. Tivémos uma guerra longa, tivémos
de defender a nossa soberania... Mas agora temos uma paz para ficar.
Lux - E os presentes que recebeu?
T.S. - Foi referido que nos poderia ter sido oferecido de presente um poço
de petróleo, ou alguma concessão para explorar alguma riqueza angolana. A
afirmação é uma barbaridade. Não se oferece de presente a capacidade de
gerir o negócio, nem de explorar riquezas.
Lux - Os angolanos reagiram ao seu casamento da mesma forma que os
portugueses?
T.S. - Lá o meu casamento foi considerado simples e elegante. A minha mãe
é uma pessoa muito conhecida em Angola e as pessoas estavam à espera que
ela fosse fazer o casamento do século. As pessoas apreciaram ter sido um
casamento sem e xageros.
Mas estes jornais e revistas são lidos em Angola e agora passaram a achar
que levei uma coroa de diamantes. O que não é verdade. Podia ter levado,
como muitas noivas em Angola, mas não levei. A tiara que levei na cabeça
não é de diamantes. Foi-me oferecida como complemento do vestido pelo
costureiro Augustus. Houve joalharias que quiseram emprestar-me peças
caras e eu não aceitei. Quando fechei os olhos e imaginei o meu casamento
não idealizei uma coroa de diamantes. Imaginei um vestido sóbrio e
elegante. Foi o que aconteceu. A mantilha foi feita por uma pessoa que me
é muito querida e o Augustus desenhou o vestido e pôs-me a tiara na
cabeça. Eu olhei para o espelho e achei tudo maravilhoso e lá fui casar
feliz da vida.
Lux - Depois houve ainda a questão dos convidados que chegaram de fora...
T.S. - Fiquei surpreendida com as pessoas que foram do estrangeiro. Todas
elas pagaram as suas despesas. Ninguém custeou as despesas da família do
noivo. O meu pai fez questão de referir que o casamento ia ser pago pela
família e todas as extravagâncias que eu quisesse seriam da minha
responsabilidade.
Lux - Quanto custou o casamento?
T.S. - É obvio que não vou responder. É uma questão particular das nossas
famílias. Mas é claro que uma família do tamanho da minha pode pagar um
casamento assim. E nenhum deles recorreu a verbas públicas para isso. Foi
o dia mais feliz da minha vida e não mudava nada naquele casamento.