A transferência de
João Pereira Coutinho para o
Expresso tem de facto
muito interesse. Não espero outra coisa do seu primeiro artigo no seu novo semanário que não seja uma articuladíssima explicação para esta interessante cambalhota. E até a invocação do trajecto jornalístico do
Sumo Pontíficie que ilumina o grupo ideológico/literário de JPC faz parte - mas esquecendo que Miguel Esteves Cardoso transitou do
Expresso para o
Independente e não ao contrário.
Para quem um dia escreveu, na
Coluna Infame, que "
uma falha do Independente tem mais liberdade do que as virtudes todas juntas do Expresso" não está mal. Já espero, na volta do correio - directamente ou por interpostos amigos - acusações de "
polícia do pensamento", "
patrulha ideológica" e as tretas ressentidas do costume - infantilidades, enfim.
Mas adiante. O que me interessa mesmo é que estas transferências provam como é mortal, para os seus próprios autores, a mania obsessiva de fazer declarações públicas definitivas e
irremediáveis sobre os mais variados assuntos. A retórica esbarra na vidinha, é uma chatice.
É por estas e por outras que me recuso - por exemplo - a dizer que sou radicalmente contra a posse pelo Estado (ou aparentados, como a PT) de meios de comunicação social. Não posso. Sabe-se lá se um dia não lhes estarei a bater à porta a pedir emprego, ou então (hipótese altamente improvável, para não dizer impossível) a ser alvo de uma proposta absolutamente irrecusável. O horror para mim seria constar da lista de pagamentos de uma empresa cuja propriedade violasse em absoluto os meus princípios. Mas isto, se calhar, é um comportamento conservador. Desculpem.