CARTA ABERTA A ANABELA MOTA RIBEIRO
Cara Anabela
A revelação de que há um blog que se apresenta como seu, chamado
Possibilidade do Sentir, foi, sem dúvida, o acontecimento blogosférico da semana, para não dizer do mês, ou mesmo (para já) do ano. Para ter a noção do vergonhoso regabofe em curso basta ir ao
Technorati, que agora até tem uma versão que funciona. Digo-lhe, com esta memória de séculos que me tortura, que só vi semelhante excitação quando nasceu aquele blog sobre o processo Casa Pia de nome impronunciável.
Bem, serve este piqueno intróito para lhe dizer, com toda a sinceridade do mundo, que aprecio muito o seu trabalho. Ou melhor: sempre gostei bastante de ler as suas entrevistas no DNA do "Diário de Notícias". Falo muito a sério. Não me pergunte porquê - levava-me muito tempo a explicar e portanto o melhor é resumir o elogio num sentido "enfim, gosto" e ponto final.
Quanto ao seu trabalho na 2: (ou
2; ou
2! ou
2... ou
2? ou lá como aquilo se chama), permita-me que não comente. Eu e aquele moço conhecido por Emplastro somos os únicos dois portugueses ainda sem uma opinião formada sobre o "novo" canal, pelo que não me levará a mal que não diga nada.
Adiante. Queria apenas dizer-lhe que gosto do seu trabalho, pelo menos daquele que conheço. Ou seja, criei uma imagem sua, simpática por sinal. E, como a Anabela bem sabe, um homem é ele e as suas ilusões. É óbvio que não podemos viver
só de ilusões mas temos que manter uma margem mínima, não acha?
Ora acontece que o blog que lhe é atribuído representa um terramoto de grau 85 (escala de Richter) na imagem que eu tinha de si. De há uns dias para cá que não penso noutra coisa. A vida tornou-se-me muito desconfortável, garanto-lhe. Deste desconforto nasce esta carta aberta - que é, como o título indica, um apelo desesperado.
Como esta carta já vai longa (pelo menos na lógica blogosférica) revelo-lhe, de imediato, o apelo:
garanta-me que aquele blog não é seu!Nem que esteja a mentir, isso não me interessa nada! Eu prefiro essa pequena mentira à dor de saber que a Anabela passa noite a "ler" a Odisseia em grego (apesar de desconhecer a língua) ou que discute com a Bárbara Guimarães a "
maternidade como materialização da essência do "ser-se mulher" traduzida de forma tão sublime num par de ovários, em alguns centímetros de trompa e num útero sempre tão ensimesmado", para já não falar do
episódio Malkovich.
Aquilo, a Possibilidade do Sentir, parece-me uma cruel caricatura de si. Safe-se a tempo: diga que foi um brincalhão, que não tem nada a ver com a coisa. Depois, se quiser, comece tudo de novo. Peça a alguém da sua confiança que lhe faça um blog. E que lho escreva.
(Ainda) com consideração
João Pedro Henriques