Quando Vitorino Nemésio chumbou o ano, no liceu de Angra, o pai recambiou-o para a Horta para, com mais sossego, se corrigir. Foi aí que conheceu José Dutra. Tornaram-se íntimos e nos bailes do Amor da Pátria amaram a mesma rapariga, Margarida. Margarida preferiu Nemésio, por causa dos poemas, deve ter sido, porque se bem me lembro Dutra, que já conheci muito velho, fora muito mais belo que Nemésio. Na casa de férias em São Roque do Pico, José Dutra ainda murmurava no último Verão:
- Era burro, o Nemésio, era burro no liceu.
Quem me contou do ressabiamento eterno do pai com Nemésio foi Margarida, a neta. Quando lhe nasceu uma filha – da primeira mulher que o beijou nas traseiras do Amor da Pátria, depois de Margarida ter escolhido Nemésio – José Dutra quis ficar com o nome por perto.
Nomes inúteis,
Nomes de família.
Estive com Margarida no Faial. Ela dividiu o Verão entre a casa do avô, no Pico, e a sua casa pertinho da Cônsul Dabney.
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Alguma certeza deve existir, repetia. Se não de amar, ao menos de não amar.
Enquanto dizia isto, vomitava.
Dei grandes passeios com Margarida, vomitando ela por Porto Pim, vomitando na Matriz, a vomitar mais longe na Espalamaca, uma vez alugámos um carro e vomitou no fim do nosso mundo conhecido, junto ao vulcão. Margarida vomitava de amor.
Nunca percebi o que viu Margarida em Jos, o holandês brutamontes. Tentei distraí-la.
- Hoje há baile no Amor da Pátria.
- Não vou.
Foi. Depois dançou com um homem de “smoking” e, por instantes, num segundo rápido, via-a feliz. A boa sociedade da Horta parecia ter voltado ao tempo dos Dabneys, mas o homem de “smoking”, quero crer, não era da boa sociedade da Horta. Talvez fosse um marinheiro ou um deportado. (continua)