1. Do medo ninguém entende. O medo é concreto. O medo não se antecipa. O medo sente-se. Não sinto medo quando me parece parece improvável levar uma pedrada. Sinto medo quando ela me atinge. Antes disso não é medo. É outra coisa - cujo nome desconheço. Uma coisa garanto: sei do que falo quando falo de medo. Sei mesmo. (E não tem nada a ver com experiências jornalísticas).
2. A burrice é intelectualizar (manipular contra a evidência dos factos). A burrice é pensar que os espanhóis não iriam registar no voto o que aconteceu quinta-feira. Os burros são os que valorizam sondagens de opinião sobre a visão espanhola da guerra do Iraque feitas
antes de se saber que os atentados não foram da ETA. Os burros ignoram a realidade concreta da vida da pessoas. Não fazem a mínima ideia. Passaram em Atocha e compararam com a Grand Station.
3. O preconceito é a variante mundana da burrice. Nem o preconceito nem a burrice
assumem o medo. O preconceito intelectualiza; a burrice alheia-se (variantes da mesma coisa). Os espanhóis recusaram uma coisa e outra. Disseram: estamos fartos deste medo. Já nos chega a ETA. Com essa ETA aguenta-se; com a outra, islâmica, que mata aos duzentos de cada vez (no mínimo) já não. E elegeram um poder que promete tirá-los da condição de alvo.
4. Os espanhóis cederam ao novo medo. E eliminaram a condição de esse novo medo existir. A inteligência pode ser um exercício colectivo e desorganizado.