"Olho as incongruentes luzes ainda acesas sob o sol que avança tornando-as insignificantes; e contudo são elas o tempo respeitoso e benigno que quer deixar testemunho daquilo que cessou; até que a sonolenta mão de algum funcionário repare no desperdício e apaga a luz, e depois apaga-a. E ainda assim os passageiros aí continuam, e ainda assim a luz não se apagou".
Este excerto, retirado do livro "Negras Costas do Tempo", do Javier Marías, encontrei-o ontem à noite, quando peguei em todos os livros que tenho dele e me sentei no sofá a reler as páginas sublinhadas a lápis. Demorei-me em "Coração Tão Branco", o livro que meu a conhecer Madrid, algum tempo antes de visitar a cidade.
Há acasos misteriosos: li este maravilhoso romance durante uma viagem de comboio Lisboa-Madrid, há cerca de cinco anos. Era a primeira vez que visitava a cidade de Marías, não consegui dormir durante a viagem nocturna de cerca de oito horas e foi este livro (o mesmo que alguns anos mais tarde receberia uma dedicatória do autor) que me deu a minha Madrid. A mesma que ainda hoje conservo com o maior carinho.