De Budapeste recebemos este poema, com dedicatória prévia: "
Para o glória fácil, com amizade, esta brincadeira a partir da Elegia do Amor de Teixeira de Pascoaes, em comemoração privada do 25 de Abril."
Lisboa, 1975
Lembras-te, meu amor,
das tardes estivais
em que iamos os dois
tão só manifestar
para junto do Povo
Unido e dos demais,
onde a História pudesse
ouvir-nos conspirar?
Tu levavas na mão
um papel exaltado
e davas-me o teu braço;
e eu, absorto, sonhava
teu corpo que perdi...
E ao longe a multidão
era um arfante abraço,
que logo se juntava
ao que eu sonhava aqui.
A harmonia da luta
ganhava teus sentidos.
A multidão operária
em breve diluía
na massa o teu perfil
e os sonhos escondidos...
Erravam pelo ar
canções da Utopia
- canções que de bem longe
as classes oprimidas
traziam na lembrança...
Olhavas para mim,
cuidando, qual criança,
no sentido da História:
esquecíamos assim
o rumo da vitória...
Olhavas para mim...
Meu corpo rude e bruto
vibrava como as massas
no Palácio de Inverno...
Oh, dor, ainda hoje escuto
nessas palavras de ontem
juras de amor eterno.
E vejo-te no meu sonho,
eterna como meta
- não te alcança o amor,
não te entende o poeta.
LFCM
Em nome do Glória Fácil, um grande obrigado.