Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

sexta-feira, abril 23

Um "mail" do Rogério Rodrigues

O Rogério Rodrigues mandou este 'mail' que eu só não tenho pudor de escarrapachar aqui na íntegra porque o dia de hoje não está a correr muito bem. Quanto ao resto, é o Rogério de sempre, sempre desassossegado como o Assis Pacheco

KarAna(nina) espero não a incomodar ao escrever-lhe este simples bilhete, a que vocês chamam post, afastado que estou da escrita para ser lida e das excrescências diárias esparramadas em letras.
Tenho apreciado a sua intervenção no Glória Fácil ( reconheço que há glórias fáceis e realizações difíceis, o que não é o seu caso) e daqui lhe envio o maior elogio que me cabe neste crepúsculo etário: não me desiludiu, como, estou certo, não desiludiria o meu compadre Assis Pacheco e alguns outros que a apreciaram quando a sua escrita se tornou visível, vinda de Caldas, com timidez e memória e o desejo de ser justa.
Até parece que estamos a celebrar o 25 de Abril como um funeral com música (desde que não seja do Vitorino).
Não. Apenas me transformei num leitor míope dos múltiplos blogues que me completam a marketização dos jornais, me refreiam o desencanto e me acautelam sobre os excessos do cepticismo.
Leio o Glória Fácil como um fait-divers intimista, cheio de sensações de viagens e receitas de cozinha (confesso que não sei acender o fogão).
Mas, entre a prosa elegante, uma; turbulenta, outra, assomam, informaticamente, algumas estrelinhas que não me indignam nem fascinam, mas que contemplo com agrado.
Já o Causa Nossa está mais próximo de mim. Há uma inquietação geracional ou uma geração que ainda continua inquieta ( e aqui os factores não são arbitrários, antes se justapõem), que ainda se indigna que se pretende politicamente incorrecta para ser politicamente justa (caso Ana Gomes, cuja leitura me liberta e, simultaneamente, fustiga o meu conformismo), com a aprendizagem diária do blogueur compulsivo que é Vital Moreira (assumo como limitação minha que me fascinam mais os seus tempos de memória e viagens que propriamente as suas contestações jurídicas).
E viajo também pelo Barnabé, sempre à espera do acerto dos aforismos de Daniel Oliveira, da erudição de Rui Tavares e de alguma insolência tão ajustada à nossa paisagem crepuscular.
De quando em quando visito o meu amigo Pacheco Pereira hoje mais preocupado em imprimir bilhetes falsos para viagens ilusórias a Marte do que na procura da Terra. JPP recusa a si mesmo a coerência de que tanto precisa: quer resolver os seus terramotos interiores com a poesia, o que não lhe fica nada mal.
Mas estou à espera de Holderlin e Rilke...
Passeio pelo Blogue de Esquerda e tenho sofrido imenso com o destruir dos sonhos do Zé Mário Silva na decoração da sua casa nova.Ele também não quer uma casa; quer o Hermitage.

E regresso ao Glória Fácil depois de uma vista de olhos, rápida e impressiva, pelo acne juvenil que vai borbulhando em muitos dos blogues, confuso entre os blogueurs e os blagueurs.
Gosto das brumas dos Açores, desse instante sereno em que surpreendidos nos reconhecemos a nós mesmos.
Falam-me vocês do livro da Clara Ferreira Alves. Não sou leitor. Transformei-me num releitor. “Camus, une vie”, mil e tal páginas de Olivier Todd ( o mesmo da biografia de Brel e do polémico e longo e porventura injusto trabalho sobre Malraux), um tratado sobre a ética, sobre as origens sociais, sobre a Resistência, não sartriana, mas de Char, Malraux, Camus, Pascal Pia e outros, comunistas e anarquistas espanhóis, maçons e comunistas franceses, judeus, só judeus ou judeus-comunistas, um tempo heróico e despojado ( se quiser, Ana, empresto-lhe o livro, horrivelmente sublinhado); “O Regresso de Netchaiev” de Jorge Semprun, sobre os filhos dos maquisards e prisioneiros dos campos de concentração nazis que se tornaram terroristas urbanos após o Maio de 68 e que acabaram, já cinquentões e com barriga na alma, gente bem sucedidda e situada na sociedade, na política e nos negócios.
Por fim, o melhor, o único --- “Declínio e Queda do Império Romano” de Edward Gibbon (1790), a história da génese da Europa (não só, é claro), das migrações das hordas do Norte em direcção ao Sul e que se civilizaram trocando a banha, a manteiga e a cerveja pelo vinho, azeite e cristianismo.
A Ana acha mesmo que há tempo para ler a Clara Ferreira Alves? Nem o Santana Lopes. Troque-a pela “Rosa do Adro”.
Vai longo o bilhete, mas como não sou blogueur ainda não aprendi os limites da blague.
De resto, Ana, continue. Espero vê-la em breve e ler, deliciado -- não sei quando – o seu roteiro sentimental sobre os Açores.
Vale. Et carpe diem que Horácio regressa às suas terras por semear.

Apostila: O PSD e o PP querem a evolução em vez da Revolução. Tudo bem. O Governo precisava de uma figura tutelar: o São Darwin. Mas o darwinismo também tem as suas limitações. A prova escrita é o Luís Delgado. Quanto ao Morais Sarmento...
|| asl, 17:19

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