Vasco Rato (VR)
respondeu à minha tese sobre o regresso da boçalidade, dois posts abaixo. Saúdo - sem ironia nenhuma - o elevado nível da resposta (o qual, aliás, contrasta bastante com
o texto de PPM intitulado "JPH ao espelho"). Mas vamos por partes:
1. VR reconhece ter aderido a uma "prática discursiva de simplificação e de clarificação". Digo-lhe que "simplificação" e "clarificação" não são sinónimos. Clarificar não significa simplificar ao ponto de afirmar - como o fez - que há quem, sendo contra a guerra, "chore lágrimas de crocodilo" pelas vítimas, milite no "quanto pior, melhor", "rejubile" com a morte de soldados da coligação, etc, etc. Isso não é simplificação; é desonestidade intelectual.
2. Estou cansado - e já o venho a dizer a algum tempo - dos argumentos que defendem a guerra no Iraque recorrendo sistematicamente ao truque de encostar os que se lhe opõem à condição de "terrorist lovers". Ou seja, o argumento bushiano do "either you're with us or you're with the terrorists". Eu não estou de nenhum desses lados. Estou do lado dos que acham que esta guerra não resolve coisa nenhuma, só agrava todos os problemas do Médio Oriente, que não combate terrorismo nenhum, além de ser profundamente ilegítima do ponto de vista da legalidade internacional (e isto para não falar das consequências no relacionamento Europa/EUA). Se os que ainda defendem a operação em curso pudessem admitir que há uma 3ª via entre os que apoiam Bush e a dupla Ossama/Saddam, eu agradecia. Reconheço em VR um esforço de sensatez ao dizer: "Eu sei 'que ser contra esta guerra não implica ser pelo terrorismo." No texto que deu origem à minha resposta isso não me parecia claro.
3. Quero com isto dizer que VR abriu assim uma porta à possibilidade do debate. Pelo menos, à possibilidade de uma conversa civilizada. Antes não era possível.
4. Quanto à manifestação do BE, o BE que se defenda. É óbvio que acho aquilo de uma cretinice total, mesmo com as explicações todas que o BE deu depois.
5. Processos de intenção: acusei VR de ter adoptado essa táctica. Na resposta, VR acusou-me do mesmo. Temos um empate. Mantenho-me na minha.
6. VR diz que não se inspira na "entourage" intelectual de Bush, antes "converge" com ela. Muito bem. But thats not the point. O ponto é que eu considero que eles encontram-se entre os principais responsáveis pela situação actual. Eles, eles e só eles. E não os que, no plano do debate de ideias, se opuseram à invasão. Esses, garanto-lhe, não têm culpa nenhuma. É bom que os "neo-cons" e os seus admiradores (mesmo aqueles "avant la lettre", como VR parece afirmar-se) tenham consciência da sua culpa.