Uma das várias manias no debate sobre a guerra no Iraque é invocar, permanentemente, Winston Churchill como exemplo moral e histórico caucionador da acção dos EUA e dos seus aliados.
O argumentário vai sempre dar ao mesmo: Bush é comparável a Churchill na medida em que, quase sem apoio nenhum, contra ventos e marés, lidera uma nação inteira –perante a indiferença de grande parte do “seu” próprio mundo ocidental – no combate à barbárie.
A comparação esbarra, no entanto, num poderoso senão: a verdade histórica. Estivémos na invasão do Iraque perante uma evidente guerra preventiva (e isto penso que ninguém nega, da esquerda à direita). A resposta ao 11 de Setembro deu-se com a invasão do Afeganistão (para mim inteiramente legítima). A do Iraque já só teve lugar num quadro mental do género “vamos atacá-los a eles antes que nos ataquem a nós”, quadro mental esse que, aliás, naufragou por completo na não descoberta de ADM.
Guerra preventiva, portanto. E, sendo assim, pergunta-se: onde é que Churchill defendeu que o Reino Unido devia abrir guerra à Alemanha antes que a Alemanha o fizésse? Nunca (repito: NUNCA). Antes de a II Guerra, Churchill limitou-se a defender – perante uma trágica indiferença geral, como se sabe – que o seu país não devia ignorar o galopante rearmamento dos alemães. E defendeu que o seu país devia, assim, rearmar-se também, para com isso tentar dissuadir os alemães de aventuras bélicas.
Ou seja: nunca (repito: NUNCA) defendeu uma guerra preventiva. Não se invoque em vão o nome do senhor.