Sim, Margarida nunca amou João Garcia. Um certo desvanecimento, pensamentos obsessivos, não fazem um amor. Mas podia tê-lo amado e essa falha não é culpa do Januário, ou essencialmente não é culpa do Januário.
Onde podia começar o amor e falhou, antes ou durante a carta que enfastia Margarida? Basta um sopro, um esgar, um erro de pontuação, uma desatenção distraída: são muito sensíveis os embriões do amor.
Cá uma simpatia… Como é que hei-dizer? Calhámos.Isto diz Margarida Dulmo a Corina Peters, negando o amor com João Garcia, na dificuldade de lhe explicar o que muito frágil e fugazmente os juntou. E depois não calhou bem.
(Agora, aqui sentada no Volga, um café da Horta que não vem nas rotas internacionais, mas fica na única rua da cidade – era Nemésio que dizia que a Horta era cidade de uma rua só – desfio parcelas do Mau Tempo no Canal a Margarida Dutra, forçando metáforas remotas que lhe sirvam, não de consolo, mas de variação. Falo ininterruptamente, o silêncio poderá atordoá-la. De quarto em quarto de hora, Margarida levanta-se e vai vomitar.
Eu faço hoje cinquenta anos e vim à Horta festejar-me e ver de longe o enterro do açoriano que amei).