Outra vez Francisco Sousa Tavares, novamente picado com o PCP. A “merda” parlamentar atingiu aqui o seu apogeu.
Data: 17 FEV 82
Presidente (Oliveira Dias, CDS): -
Tem a palavra o Sr. Deputado Sousa Tavares.
Francisco Sousa Tavares (PSD): -
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pretendo usar do direito de defesa, uma vez que fui atacado pessoalmente, aliás como é costume. Faço notar à Mesa, até ,porque já ontem se levantou aqui um incidente, que os Srs. Deputados do PCP usam permanentemente - uma linguagem de ofensa e de ataque pessoal inadmissível nesta Câmara.
Vozes do PCP: -
Olha quem fala!
O Orador: -
É muito mais ofensivo as expressões que usam e as indirectas do que mandar à merda uma pessoa. Isso não ofende ninguém, pois é uma expressão à antiga portuguesa de uma pessoa que está aborrecida. (…)
Eu não insulto ninguém, eu nunca fui anticomunista primário. Eu colaborei com comunistas na luta antifascista. Como tal, não tolero que um badameco qualquer venha a esta Assembleia faltar-me ao respeito e chamar-me adjectivos.
(…)
Veiga de Oliveira (PCP): -
Sr. Presidente, eu gostaria de saber se V. Ex.ª acha que é aceitável que um deputado chame a outro badameco.
(…)
Presidente: -
Eu teria preferido que nenhum orador usasse expressões desse género. Teria preferido que o Sr. Deputado Sousa Tavares não as utilizasse.
(…)
Sousa Tavares (PSD): -
O Sr. Presidente acha que chamar badameco é mais ou menos ofensivo do que chamar-me anticomunista primário e fura-greves, como aquele senhor me chamou? Eu não tenho a obrigação de ouvir estas expressões.
Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.
Esses senhores não reconhecem as ofensas que fazem. A mim ofende-me muito mais isso do que chamarem-me badameco, que é o que ele é.
Carlos Espadinha (PCP): -
Grande ordinário!
Sousa Tavares (PSD): -
Penso que os critérios da Mesa devem ser critérios objectivos da opinião pública. É o peso, pejorativo ou não, que em termos de opinião pública tem a linguagem usada que devem ser os critérios da Mesa e não a interpretação de que cada um se socorre, ou seja, se badameco é mais ou menos insultuoso do que anticomunista primário ou se mandar à merda é mais ou menos insultuoso do que dizer “vá àquela parte”. Simplesmente, ou nós sabemos qual é o critério da Mesa ou então cada um de nós usará os seus critérios, e não sei onde é que chegaríamos.
(…)
Presidente: -
Sr. Deputado Veiga de Oliveira, julgo que se lhe chamassem a si - e peço desculpa de pôr a questão nestes termos - qualquer coisa de «primário» e «fura-greves» naturalmente também se ofenderia.
Vozes de protesto do PCP.
Portanto, o que, quero dizer com isto é que a sensibilidade das pessoas às ofensas é respeitável. Agora o que eu desejaria é que a discussão aqui, em Plenário, fosse afirmativa e não descambasse, por emoção ou por entusiasmo, em frases e palavras que nos ofendem uns aos outros. É nesse sentido que faço um apelo, e tanto apelo para o Sr Deputado Sousa Tavares, para que não chame «badameco» ao Sr. Deputado Jorge Lemos, como apelo ao Sr. Deputado Jorge Lemos para que não chame «fura-greves» e não sei que mais ao Sr. Deputado Sousa Tavares.
A sessão foi suspensa. A "merda" só regressaria quase um ano depois.