Faria algum sentido lançar hoje, trinta anos passados, um movimento em defesa do esclarecimento rigoroso e absoluto sobre o quem, como e porquê da rede bombista de extrema-direita que assolou Portugal no PREC?
É óbvio que não. Trinta anos passados é impossível esclarecer toda a verdade - e, por exemplo, estabelecer, sem sombra para qualquer dúvidas, responsabilidades criminais, as quais, além do mais, até devem estar mais que prescritas. Fazer-se História é uma coisa. Cavalgá-la para processos políticos é outra, completamente diferente - além de que, quando a História se torna instrumento de combate político, primeira vítima é a verdade dos factos, que é o que, no final de contas, interessa (ou não?).
Sendo assim, porquê esta ânsia de revisitar o passado? Simples: não havendo no
presente instrumentos para defender posições do
presente sobre temas do
presente (Abu Ghraib, por exemplo), vai-se ao
passado buscá-los.
Quem o faz só o faz porque, evidentemente, acha inteiramente correcto fazê-lo. No entanto, já não acha legítimo que se "usem" as torturas de Abu Ghraib (um facto do
presente) de "de forma puramente instrumental para atacar a intervenção americana" (outro facto do
presente).
Quem o faz nem se apercebe que ao estar a invocar o
passado (o tal "relatório das sevícias")
no contexto de uma discussão sobre o presente (Abu Ghraib) está, precisamente, a actuar no mesmo terreno argumentativo aos tais que são alvo da sua crítica. Querendo ser diferente torna-se ainda mais igual - e com isso legitima (dá razão, cauciona) aqueles de quem pretende ser diferente.
Importa manter a serenidade. Isto não é grave nem dramático: é apenas pobre, confrangedoramente pobre. E pega-se, ainda por cima. Mas, verdade se diga,
aqueles a quem este tipo de estratégias convém, já lá tinham chegado muito antes (Maggiolo Gouveia, Isabel do Carmo...). O "mérito" primordial é deles. O seu a seu dono.