A
Abébia Vadia, blogue que há muito deveria ter merecido aqui uma referência, chama-nos a atenção para o melhor artigo da imprensa dominical,
assinado por Mário Mesquita e intitulado "Santo António Champalimaud". Antes que o
link se
deslink, eis alguns parágrafos, rigorosamente grátis:
"Confesso a minha impreparação para avaliar as possibilidades de sucesso de uma eventual proposta de beatificação do industrial. Não tive ocasião de conhecer a pessoa, nem estudei suficientemente o perfil. Pior: pela leitura das múltiplas páginas publicadas após a sua morte verifiquei que a maior parte das minhas ideias a respeito do famoso capitalista, quiçá provenientes de rumores ou de preconceitos ideológicos, eram falsas. "Mea culpa".
Aos olhos de muitas pessoas da minha geração, Chapalimaud representava, o mais típico industrial da era salazarista, mandão e prepotente, que construíra o seu império cimenteiro e bancário à sombra da protecção que lhe conferia a legislação proteccionista do "condicionamento industrial" e os instrumentos ditatoriais do regime, desde a ausência de liberdade sindical e do direito à greve até à prestimosa acção da polícia política na repressão dos movimentos sindicalistas.
As hagiografias jornalísticas desmentem esta visão. Champalimaud não era adepto de nenhum Governo, teria sido, sempre, um homem do "contra". Manifestava, claro está, as suas preferências, que se exprimiam, a fazer fé nas narrativas, mais pela negativa do que pela positiva. Alguém sustenta mesmo que desafiou dois regimes. Admirava o ditador Salazar e detestava Marcelo Caetano, que pretendia liberalizar o regime. Abominava, naturalmente, o 25 de Abril, em seu entender "a maior desgraça da História de Portugal".
De facto...a hagiografia em relação a Champalimaud que povoou grande parte dos escritos da última semana é mais uma prova, indubitável, do avassalador domínio da esquerda nas mais influentes redacções do país. Nem percebo como ninguém entendeu isto antes de mim. Devem andar a dormir.