1. O Presidente pode decidir tendo em conta a sua própria legitimidade eleitoral (para variar). Ou então pode decidir tendo em conta, apenas, a legitimidade parlamentar (sobre a qual, aliás, as últimas eleições europeias permitem legítimas dúvidas). Na eventualidade deste segundo caminho pergunta-se: porque não um Presidente eleito somente pelo Parlamento? Na presente situação, qual seria a diferença? Se repararem bem, nenhuma.
2. Os militantes do PSD recusaram, por várias vezes, dar a liderança do partido a Santana Lopes. Isso aconteceu logo na sucessão de Cavaco e, depois, em vários congressos (contra Marcelo, contra o próprio Durão). Ou seja, o partido recusou, por várias vezes, indicá-lo como candidato a primeiro-ministro. A certa altura, Santana escolheu um caminho alternativo, o autárquico: primeiro a Figueira, depois Lisboa. Foi tudo o que o partido lhe ofereceu. Agora prepara-se para ascender, em simultâneo, à liderança do partido e do país, sem ir a votos nem no partido nem no país. Lenine não faria melhor.
3. É claríssimo o que leva Santana a recusar um congresso do PSD: receia perder (ou ganhar apenas por escassa margem). A mesma razão leva-o a recear eleições antecipadas. O voto não interessa. O que interessa é o poder. E depois logo se vê.
Primeiro o poder; depois a legitimidade do voto. Isto é a inversão total do procedimento democrático. E “só” isso que está em causa.