Não há nenhuma "crise do sistema". O sistema - semi-presidencialista - funciona. É o melhor, o mais equilibrado.
O que se passou foi algo muito simples: alguém errou. No caso, foi o PR - errou. Errou porque decidiu subjectivamente e eu, subjectivamente, acho que errou, como há muitas pessoas que acham, subjectivamente, que acertou.
Passa-se isto em Belém e passa-se isto em todo o lado (vejam-se as decisões judiciais). Subjectividade, toda a subjectividade. São seres humanos os que instalamos no poder. Sempre o foram, nunca deixarão de o ser (felizmente).
O único sistema que resolvia isto tudo consistia em pôr todo o poder de um dos lados da balança. Aí nunca haveria dúvidas. Perderiamos o direito de especular (que é, de todos, o mais importante, porque corresponde ao direito de pensarmos para além do que directamente nos interessa). O direito de termos dúvidas. De pensar: ele pode decidir assim
ou pode decidir assado.
Processos como o da Casa Pia ou o desta crise tiveram essa virtude: puseram-nos a pensar
em geral. Soubemos muito mais sobre o "sistema": como funciona, como não funciona, como deveria funcionar, etc, etc, etc. Quem já sabia continuou a saber; quem não sabia passou a saber. É nesta exacta medida que se pode garantir: não há crise nenhuma do sistema. O país está um bocadinho mais atento, parece-me.
Por isso, daqui para a frente - nas autárquicas, nas legislativas, nas presidenciais - os compromissos terão de ser algo mais do que têm sido, naturalmente.