Encontraram-se no Norte de Itália num Verão tão estúpido como este e julgaram ter-se apaixonado. Não perguntaram os nomes nem de onde eram, para evitar que o encontro transbordasse do Verão. A paixão de risco, a devastadora, só aparece no Inverno e isso não era (acharam por mútuo consentimento silencioso) o que lhes estava destinado.
Um deles descaiu-se, um sotaque, uma referência escusada, e descobriram ser ambos de Paris. A descoberta inadvertida começou a dar-lhes ideias. Talvez, eventualmente, quem sabe se calhar um "futuro", o temível "futuro" dos amantes. Ela imaginou-se a amá-lo lá no sótão do Quartier Latin (as histórias de Paris metem sempre águas-furtadas), ele a despachar a mulher e os cinco filhos e metade do ordenado para outro "arrondissement".
Decidiram dar 15 dias ao acaso daquele amor, ou lá o que era. A isto chama-se hoje "dar um tempo", mas F.F. não me situou na época histórica em que ocorreram os factos que descrevo. Combinaram um encontro (o peso desta palavra em português merecia atenção académica). No café Mona Lisa.
Na mesma rua, fica o café Leonardo da Vinci.
O final era o que tinha que ser: um foi para o café Mona Lisa, outro para o Leonardo da Vinci.
Nunca se reencontraram e foram incrivelmente felizes. O desejo de F.F. é que, naquele momento, por um lapso, eles se tenham perdido para sempre. Não devo pôr em causa o verdadeiro autor desta história (eu sou copista), mas tendo em conta que bastava tirar qualquer coisa da cabeça para perceber o engano, acho-me perfeitamente convencida que isto foi tudo de propósito. E terá sido melhor assim.