Meu avô era radioamador e passou a técnica a meu pai e meu tio. Meu pai usou o rádio como um telemóvel - levou o transmissor para uma montanha em Timor, construiu uma antena e falava com a família às horas em que os antípodas os deixavam encontrar. Meu tio, não. Falava, como o meu avô, todos os dias com estranhos.
Às vezes chegavam pessoas. Tinham nomes esquisitos: o CRFVTS, ou o CTSW1. Na rádio os nomes são mais absurdo que na blogosfera. E então, ao vivo, pareciam muito satisfeitos: alguns conheciam-se, falavam-se, há anos.
Um destes dias, apresentei meus tios a uns amigos.
- Conheceste-os no jornal?
- Não.
- Na faculdades?
- Não
- Em Lisboa
- Não. No blog.
Uma nuvem de ridículo atravessou-me a cabeça. Até que o meu tio esclareceu:
- Isso dos blogs é igual ao radioamadorismo.
E então, certa de estar a cumprir a tradição da família, sosseguei.