Ela pode ser ucraniana, bielorussa ou romena. Não distingo a língua e a pele branca. Ele é o patrão dela, e presumível marido: um dia destes vão ao registo civil e ela deixa de se preocupar enfim com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Tenho lá ido tomar café por causa do sorriso dela. O sítio é um comboio nojento, mas no outro café, o que não é um comboio nojento, a que lá está rosna.
Hoje de manhã, ele disse-lhe - e claro, era a brincar - ele disse-lhe que as empregadas fazem o que ele quiser e folgam quando ele quiser. E que lá por dormirem com ele não têm bónus, fazem ainda mais o que ele quiser. Ele estava a brincar, claro que estava a brincar (achei eu).
Mas ela não: irritou-se numa língua em que só de longe em longe se distinguia a palavra "casamento" e também "trinta e cinco anos", que deve ser a idade dela. O sorriso foi para outra esfera, mas pode ser que o casamento não vá - ela até corre riscos de vida.
Eu talvez arranje outro café. (mudei de casa, não tenho hábitos consolidados).