Há coisas que me recuso, em absoluto, a fazer. Por exemplo: sentar-me num sofá e pôr-me a ver um daqueles programas de Apanhados. Na maior parte dos casos aquilo vive da humilhação de uns pobres coitados apanhados na curva por uma partida estúpida – e que, ainda por cima, até parecem gostar muito da coisa.
Esses espectáculos envergonham-me. Detesto rir com aquilo e detesto ver quem ri. É por vergonha, sentimento que, neste caso também pode ter outro nome: pudor.
São estes, precisamente, os sentimentos que me levam, sistematicamente, a fazer figura de parvo quando alguém me pergunta se eu li o último artigo do arquitecto Saraiva, director do “Expresso”. Respondo sistematicamente que não. E respondo assim porque é mesmo verdade: não consigo ler o arquitecto. Não é bem algo que tenha decidido fazer. É uma recusa que está para lá da razão. Em tempos passei por ali os olhos e aquilo pareceu-me de tal forma desconchavado e sem sentido – além de mal escrito – que não consegui voltar a pôr os olhos naquela prosa. Por razões profissionais até o devia fazer mas – confesso – está para lá das minhas forças.
Exactamente o contrário é o que acontece com os textos de Vasco Pulido Valente (VPV). Pertenço ao vasto grupo dos que devoram as suas três tripinhas semanais no “Diário de Notícias”. Devorar é o termo exacto. Tanto assim que aquilo me sabe sempre a muito pouco – recordo com saudade o tempo em que lhe davam uma página inteira n’”O Independente”.
Este domingo, porém, VPV gastou a sua tripinha a zurzir no arquitecto, pedindo-lhe inclusivamente que lhe providenciasse o “alívio” de se demitir da direcção do “Expresso”. Ver o meu colunista favorito a desperdiçar o seu genial talento com tal assunto é coisa para me estragar o domingo. Portanto VPV, faça a todos os seus leitores um favor: faça de conta de que o homem não existe. Por mim já decidi isso há muito tempo.