Sendo velejador por afinidade parental aprendi há muito algo muito simples: um barco multicasco (catamarã, trimarã) é mais perigoso num mar agitado do que um monocasco. E um multicasco de fibra – isto é, muito leve – é ainda mais perigoso, precisamente devido à sua leveza. Eu sei disto e toda a gente que, por dever de ofício, tem de perceber um bocadinho de mar, também sabe. E nem é preciso ser velejador, basta ser marinheiro.
Infelizmente na administração da SOFLUSA tal verdade elementar parece ser desconhecida. Não são marinheiros (não tinham que ser, aliás) mas, sobretudo, não querem saber para nada do que lhes podem dizer as pessoas avisadas. Resumindo: Cada vez que o Tejo se agita mais um bocadinho são cortadas as carreiras para o Barreiro
nos lindos catamarãs da empresa. E volta tudo ao velho cacilheiro.
Ora isto é indigno. Obriga milhares de pessoas, nesses dias, a esperar horas infindas para chegar ao outro lado do rio. Torna a travessia num inferno e o acordar no dia seguinte um outro inferno porque já se antecipa novo inferno. Causa danos no rendimento laboral e logo no rendimento dos sítios onde essas pessoas trabalham. Afecta a vida económica mas, sobretudo – é o que mais me chateia – rebenta com a vida pessoal e familiar de cada um. Um homem ou uma mulher (ou um casal) que tenha de viver este horror diário não pode de modo algum ser feliz. E quem não é feliz raramente faz os outros felizes.
A mim – que sou automóvel-dependente (percebem agora porquê?) – este tipo de merdas dá-me logo vontade de passar à luta armada. Não o podendo fazer (posso ser preso) gostaria, pelo menos, que os responsáveis por esta situação (gestores ou políticos ou ambos) fossem, pelo menos, seriamente penalizados pela porcaria que fizeram.
Como? Podiam obrigá-los a sofrer o calvário diário dos milhares que usam aqueles serviços. E com um letreiro pendurado ao pescoço a dizer: “Fui eu que comprei os catamarãs”. Aí saberiam o que é atravessar o Tejo…a nado. Era o mínimo.