Aqui e na caixa de comentários do Barnabé escrevi que o Daniel anda a dizer umas "
cretinices" sobre o assassinato do Theo Van Gogh, fazendo-me aflição a sua "
estupidez". É claro que o Daniel reagiu com as birrinhas mimadas do costume dizendo que eu fui "
insultuoso" e o diabo a quatro.
Ora se dizer que alguém escreveu uma "cretinice" revelando uma "estupidez" que me aflige é considerado um insulto então eu não sei o que seja um verdadeiro insulto (e nem vou exemplificar com verdadeiros insultos, para o Daniel não pensar que são para ele). Portanto vamos assentar num ponto:
não é um insulto eu escrever aqui que algumas coisas que o Daniel (ou outra pessoa qualquer) escreve são "cretinices" próprias da "estupidez". Insultado sinto-me eu, na minha inteligência, quando vejo o Daniel ir por um caminho argumentativo que o faz perder a razão que tinha no início (e que consistia, no essencial, em dizer que não se podia culpar
toda a comunidade islâmica - e o islamismo em si - a partir do assassino do Van Gogh).
E afinal onde é o Daniel fez asneira da grossa (isto também é um insulto?). Simples. Naquela frase em que já muita gente de bom senso malhou: "
Um fanático assassina outro fanático (o que dá, e isso nem estou disposto a debater, toda a superioridade moral ao segundo fanático)".
É claro que a ressalva do Daniel (o que ele escreveu entre parênteses) não ressalva coisa nenhuma. O essencial é isto: para o Daniel as
opiniões do Theo Van Gogh (expressas em filmes ou de outra forma qualquer) já são, em si mesma, próprias de um "fanático". Reparem: o Daniel admite que só o acto de
emitir uma opinião já pode, em si mesmo, revelar um fanático. E depois, ainda segundo o Daniel, há graus de fanatismo: fanáticos sem superioridade moral (que matam) e fanáticos com superioridade moral (que são mortos).
Ora isto é perigoso, muito perigoso. Revela, para já, que o Daniel não tem assim grande consideração pela liberdade de expressão. Ou pelo menos pela de quem a usa para dizer coisas com as quais o Daniel não concorda. E eu, francamente, espanto-me -indigno-me até, ao ponto de o "insultar".
Pensava que o Daniel já tinha percebido que não basta a um tipo emitir umas opiniões, por mais bárbaras que sejam, para ser considerado um fanático.
O fanatismo é o resultado, isso sim, da conjugação de opiniões (radicais, extremistas, etc) com acções (violentas). É preciso uma coisa e outra (opiniões+acções). Dirá o Daniel: sim, sim, mas as opiniões
instigam acções, uma coisa não se pode separar da outra. Ok. E, sendo assim, qual era a opção do Van Gogh? Ficar quieto e encolhido de medo a um canto por recear as consequências (sobre si ou sobre outros) das suas opiniões? É evidente que isto não é uma opção. Ou melhor: é uma não-opção. O medo é o contrário da liberdade. A liberdade exerce-se (dentro dos limites da lei) para lá do medo, apesar do medo - e contra o medo. E quem se sente insultado nas suas convicções religiosas que se revolte dentro da lei, nos tribunais, por exemplo, que é para isso que lá estão.
Só mais uma coisa: é de uma rematada palermice ilustrar o suposto anti-semitismo do Van Gogh com o facto de ele ter contado
uma anedota sobre judeus. Eu que, como a ASL diz, tenho um humor "pesado", conto anedotas de judeus, pretos, gays, deficientes, alentejanos, Cristo, Hiroshima, sida, pedofilia, e tudo o mais que te lembrares. Não alinho na ideia de que só judeus podem contar anedotas de judeus, ou pretos sobre pretos, etc, etc. E conheces-me já o suficiente para saber que não sou nem anti-semita, nem homofóbico, nem racista, nem mesmo sportinguista. Eu, que não estou grande imaginação para trocadilhos, só me lembro de uma máxima a aplicar ao Daniel:
Once a PC (Partido Comunista), allways a PC (Politicamente Correcto).
PS - Mas
a melhor mesmo foi do Rui Tavares, que me tratou por "esse esplendor da ninharia". Juro, esta mata-me. Adorei, adorei, adorei (estou a falar a sério)! Até acho que "Esplendor da Ninharia" dava um belíssimo título para um blogue:
esplendordaninharia.blogspot.com - soa-me bem (registem-no à vontade, que aqui não há direitos de autor, felizmente). Mas olhe Rui, eu tenho outro melhor. A ideia que transmite é parecida e a mim soa-me ainda melhor. Tome note: Glória Fácil. Que lhe parece?