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quinta-feira, dezembro 16

Assessores e jornalistas - doutrina consolidada

Tem sido imensa a vozearia dedicada ao "caso David Dinis/Morais Sarmento". Uma conversa interessante e, sobretudo importante, que os tempos correntes tornam particularmente actual. Sendo impossível responder a cada um dos textos (na blogosfera ou por mail)que comentaram (uns apoiando, outros criticando) o meu texto de defesa do David, procurarei agora consolidar a minha visão sobre o assunto. Por alíneas, como de costume, e o mais sinteticamente possível (mas façam-me o santo favor de não confundir espírito de síntese com simplismo).

1. Defendo uma lei que estabeleça "quarentenas" nos trânsitos entre assessorias e redacções. Seria algo que protegeria os jornalistas de suspeitas.

2. Não havendo tal lei, a coisa fica à consciência de cada um e das redacções que acolhem ex-assessores. Ou seja, só o populismo e a praga do politicamente correcto (a tal má fé de que falei no primeiro 'post') permitem juízos de suspeita colectiva, por igual, sobre todos os jornalistas que vão para assessores e depois regressam.

3. Não são todos iguais, como se sabe. Entre o Fernando Lima, que conduziu o "DN" a um buraco (de vendas e de credibilidade, o que aliás o próprio conselho de redacção do jornal atestou) e o David Dinis, que co-assinou uma entrevista competente e jornalísticamente relevante a um ministro, há uma diferença abissal, como se sabe. Esta diferença abissal, que dificilmente será contestada com argumentos sérios, sustenta, só por si, a ideia de que os casos não são todos iguais - são mesmo todos diferentes.

4. Logo, em relação ao David, eu julgo pelo que conheço. É um jornalista competente. O David decidiu, em consciência, que tinha condições para exercer as funções que exerce. Ele sabe que está mil vezes mais vigiado do que um jornalista "normal". Decidiu arriscar ser de novo jornalista de corpo inteiro, sem "resguardos", por achar que tem capacidade (isenção, distância, sentido da notícia, etc) para fazer o que está a fazer. Acho que o conteúdo da entrevista o atesta. É tudo menos sério que o David Dinis leve por tabela do fracasso da direcção de Fernando Lima no DN. Que culpa tem ele? Nenhuma, evidentemente.

5. A minha visão do David não está distorcida pela amizade. A consideração da sua competência foi anterior à amizade. Se ele não fosse competente não seríamos amigos.

6. O Martim assinou no seu blogue (mautemponocanil.blogspot.com) um texto em que afirma em que vê o jornalismo como uma "missão". É uma noção doentia (e perigosa) da profissão, quase como um sacerdócio. Ele julga deter uma legitimidade especial - "missionária", digamos assim - em relação a outras profissões. A legitimidade especial do jornalista não decorre da profissão em si mesmo. Decorre da competência com que é exercida. E nisto um jornalista é como um sapateiro. Para mim ser jornalista é apenas uma profissão, nada mais do que isso. Se eu quisesse ter uma "missão" tinha ido para padre. Anglicano, de preferência.

7. O Paulo Gorgão (bloguitica.blogspot.com) pergunta-me por não comentei o texto de José Mário Costa no "site" no Clube dos Jornalistas. Simples: é tão baixinho que não vale a pena.

8. Um leitor do Glória Fácil, Nelson Pereira, escreveu-me dizendo que eu só actuava por "lealdade corporativa". Basta ler-se um jornalista a defender outro para se ouvir logo esta conversa. A mim este tipo da raciocínios lembram-me sempre o Pavlov e o respectivo cão. Puro reflexo condicionado. Nelson Pereira diz ainda que agora vai ter "mais cuidado" na leitura dos meus "trabalhos jornalísticos" porque me "imaginava" com "outra postura ética e profissional" mas, "afinal as aparências enganam". Meu caro, sei, desde que vim para a blogosfera, que essa seria uma das consequências normais de por aqui andar a escrever. Não me assusta, pelo contrário, desafia-me a tentar melhor no que faço.

9. Fiz-me entender?
|| JPH, 16:56

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