Esperei-a no bar do novo hotel dos Bensaúde, que fica mesmo em frente ao porto, mas a mesa que nos sobrava não tinha vista para lado nenhum. E, naquela minha visita enfastiada à Horta em Outubro, onde mal fixei o azul-safira de Porto Pim (olha, olha depressa aquele azul, disse o Carlos, mas eu distraí-me com nenhures), restava-me olhar o Pico.
Margarida chegou com faces rosadas, menos magra, mais bonita. Abraçámo-nos, mas quando ela se quis sentar, convidei-a para subir ao quarto.
- O meu quarto tem a vista mais bonita sobre o Pico que alguma vez vi aqui. Vamos lá para cima, há coca-cola.
- Agora gosto mais do Pico, disse ela.
- Alguma razão especial?, perguntei
- Já te conto, disse ela. Primeiro a coca-cola.
Abri o frigorífico e as coca-colas e sentei-me no sofá onde melhor se via a montanha, enquanto Margarida se sentava na cama, abraçada às almofadas.
- Olha para mim, tenho coisas importantes para contar.
Mas eu vagueava pelo baile das nuvens do Pico, desinteressada da Horta, e já sem nenhuma curiosidade em ouvir o que Margarida tinha para dizer. Agora se ela se fosse embora e eu não tivesse que falar nem ouvir, sentir-me ia tão confortável só a olhar a valsa das nuvens. Suspirei e ela ouviu.
Não me lembro de alguma vez fazer o que verdadeiramente me apetece. Sou de Esparta. Cumpro deveres. Afastei-me da montanha e sorri para Margarida.
- Vá, diz.