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terça-feira, janeiro 25

Margarida vai casar (4)

- E de maneira que vou casar com ele.
Esta frase era o epílogo. Margarida tinha acabado de relatar todos os passos que a conduziram a uma decisão radical - casar com um escritor flamengo que, instalado no Pico, escrevia uma novela sobre os velhos baleeiros - e eu não tinha ouvido nada.
Lembro-me de quando desviei os olhos do rosto de Margarida para a canção de roda das nuvens à volta do pico do Pico e daí rapidamente para Luís, o médico hipocondríaco.
Fazia três dias que, de surpresa, apareci na sua ilha mínima. Luís sofre de uma espécie rara de agorafobia e automedicou-se: não sai da ilha, diz que não sobrevive num espaço maior. Nestes anos todos (mais de dez, menos de quinze), fiz as malas, apanhei o avião mas nunca de surpresa, os seus olhos muitos azuis ao dobrar a esquina do aeroporto, todos os anos um automóvel diferente.
Desta vez não avisei:
- Estou na tua ilha. Só hoje.
- Não estou.
- Como não estás?
- Talvez já esteja curado.
- Vemo-nos daqui a dez anos.
- Daqui a dez anos estamos mortos.
E então matámos tudo o que havia com duas ou três palavras sacrificiais, coisa pouca nos tempos que correm.
|| asl, 19:48

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