A tradução, por assim dizer, tem coisas: a Comissão de Actividades Anti-Americanas é aqui designada "Comissão de Actividades Não-Americanas". Quando Caroline regressa ao seu gabinete no "Tribune", o escritório é incompreensivelmente traduzido para "quarto" (o "room" inglês dá para tudo).
Mas enfim. O último Gore Vidal traduzido em português, A Idade do Ouro (editorial Notícias) que fecha o ciclo dos romances do Império, é o gozo do costume. Aqui, os dois meios-irmãos Caroline e Blaise Sanford já estão mais velhotes e mais suaves um com o outro. No início da II Guerra Mundial, Caroline volta a Washington, depois de algum tempo passado na sua Saint Cloud le Duc, enviada pelo seu amigo Léon Blum para amaciar a resistência isolacionista americana. Caroline é da "casa" branca de Franklin Roosevelt, onde fica hospedada. Roosevelt é um pândego, especialista em cocktails, torturado pela mulher Eleanor que, por vingança de uma infidelidade com uma secretária, o obriga sempre a comer toda a comida que ele detesta (o pior é uma salada sinistra cheia de maionese e pedaços de ananás).
Mesmo assim, não se percebe se Eleanor sofre com a traição por amor ou apenas por sentimento de posse. Vidal sugere que Eleanor, que foi educada no mesmo colégio de Caroline, dirigido por uma famosa lésbica, se conforta em braços femininos.
A história da América pelo maravilhoso monstro Vidal es preciosa. Não haverá uma alma editora que traduza (bem) o que falta, "Burr" e "Hollywood"?