A igreja católica portuguesa, tão tagarela a propósito de alguns assuntos internos (ou externos) de outros países, guardou um quietíssimo silêncio durante os 18 (ou 19?) dias da crise timorense. E quem diz a hierarquia católica portuguesa diz a chefia suprema – o vaticano. Hellooo, papa bento! Anybody there? Foi (é?) só uma tentativa, por parte da hieraquia da igreja de um país (por acaso encravado numa zona maioritariamente muçulmana, onde os católicos se queixam de perseguição) de tomar o poder. O poder à séria: não lhes chegam as almas, parece. Dizia aliás o bispo de baucau, basílio do nascimento -- pessoa de quem todos os que o conhecem desenham um retrato formidável, de sensatez e cultura -- numa entrevista à lusa, que o objectivo do movimento era afastar o primeiro-ministro (que é muçulmano, por acaso). E tudo isto porquê? Porque o homem é um tirano? Porque escraviza o povo? Porque manda prender os opositores políticos? Não. Ao que se sabe, nada disso se passa em timor (embora se passe e tenha passado noutros lados, sem que na maioria deles se tenha visto semelhante manifestação de repúdio por parte da hieraquia católica). Passou-se que, em cumprimento dos princípios laicos da constituição, o governo decidiu retirar o carácter obrigatório às aulas de religião e moral. E zás, o bom do d. basílio mais os colegas decidiram que o governo tinha de cair. E toca de acicatar o povo, de organizar – dizem os relatos – tribunais populares em casa do d. ximenes, e sabe-se lá mais o quê. Sabe-se lá, precisamente, que notícias não houve muitas: não dei conta de nenhum órgão de comunicação social português ter enviado para lá nenhum repórter, para averiguar in loco o estado das coisas. Nós agora é mais enterros (e casamentos, e baptizados – daqui a uns meses nasce o rebento do felipe e da letizia, olé!).
A hierarquia católica portuguesa, diga-se, queixou-se disso mesmo: falta de informação. Não se sabem as razões profundas daquilo, disseram-me dois altos prelados (que, no entanto, se mostraram desagradados com a situação, que consideraram ‘exagerada’ – embora frisassem que o governo também não teria andado bem, e coisa e tal). Um deles disse-me até que os bispos portugueses ainda não tinham conseguido falar com os bispos timorenses. Outro garantiu-me que, pelo contrário, havia ‘conversações atrás das cortinas’ no sentido de se chegar a um acordo. Mas o facto é que, repetiam, ‘não havia ainda informação suficiente’.
Não sei com vocês, mas isto a mim lembra-me aquele paleio do pc sobre a urss. As informações deles eram sempre outras, ou insuficientes – aquelas estadas de meses e anos dos dirigentes portugueses por lá não tinham chegado para recolher informação fidedigna (perfeccionistas, eles).
Acontece que, por vezes – se calhar muitas vezes, talvez a maioria das vezes – o que parece é. Um regime tirânico é um regime tirânico e um putch teocrático é um putch teocrático. E, pasme-se, há bem e há mal – como a igreja católica não se cansa de dizer. Em timor e noutro lado qualquer (e, geralmente, num lugar qualquer perto, muito perto de nós).
f.