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quinta-feira, maio 26

conspiração II

a propósito do robert jr, um pequeno, comezinho, caso de estudo. o do espesso e da educação sexual nas escolas. ainda se lembram?

começou tudo há duas semanas e meia, com um artigo de página inteira, profusamente ilustrado com desenhos a preto e branco cuja origem não era assinalada (ai o copyright... e a deontologia...) mas que quem lesse o texto deduziria virem de uns tais de manuais oficiais da educação sexual.uma das ilustrações, de duas criancinhas nuas a tocar os genitais, teve honras de primeira página.

ficávamos pois a saber, pelo trabalho de três jornalistas do semanário, que: 1. havia uma programa oficial de educação sexual; 2. que o seu principal responsável seria uma associação chamada apf (associação para o planeamento da família); 3. que os pais não eram tidos nem achados quanto ao conteúdo do dito programa; 4. que do dito programa e dos manuais oficiais constavam coisas inauditas, como pôr os alunos a pensar em sinónimos de acto sexual e genitais, a falar sobre masturbação, a imaginar um país onde a maioria da população fosse homossexual ou a saber para onde vai o esperma ou o que é sexo oral.

no texto, eram citadas várias pessoas -- sobretudo pais e mães, uma pedopsiquiatra (que, entre outras coisas, dizia que a lei portuguesa não contemplava a existência de casais homossexuais. espantosa afirmação, tendo em conta que é falso -- há uma coisa chamada a lei das uniões de facto -- mas sobretudo porque não se descortina em que é que isso interessa para o caso da educação sexual e do ponto de vista da psiquiatria), o presidente da confederação das associações de pais e, salvo erro, uma psicóloga.

um dos pais citados afirmava-se autor de um estudo sobre "o programa oficial da educação sexual" e de conferências feitas pelo país fora sobre o assunto.

no texto publicado, não havia qualquer tentativa de esclarecimento do assunto junto do ministério da educação ou da apf.

os nomes dos "manuais oficiais" e respectiva autoria, assim como dos "textos de apoio", nunca era referida.

também não era explicado como se leccionaria a educação sexual nas escolas, nem quem seria responsável por tal.

na semana seguinte à da publicação do texto, a associação juntos pela vida fez um comunicado em que, baseando-se na 'investigação' efectuada pelas três jornalistas, exigia o fim imediato do programa de educação sexual, a investigação do mesmo e a identificação de seus autores e 'cúmplices', assim como de todos os alunos a ele 'expostos' e um pedido de desculpas 'a cada um' dos respectivos pais, para além de demandar o esclarecimento sobre as relações da apf com o ministério, a existência de protocolos entre a dita e o dito, o montante dos mesmos, etc. a associação portuguesa das famílias numerosas pôs a circular uma petição no mesmo sentido.

colunas de opinião, aqui a ali, começaram a surgir, a maioria das quais tomando como certo o que o espesso dizia e manifestando repúdio pelo 'programa oficial de educação sexual'. na maioria dos jornais, as notícias reproduziram os termos do comunicado e da petição, a reacção da apf, que negava a aplicação da maioria dos exemplos citados no texto e do ministério, que negava a existência de "um programa oficial de educação sexual". entretanto, soube-se que o pai autor do tal estudo citado no espesso era um membro do movimento juntos pela vida.

por outro lado, quem se debruçasse minimamente sobre o assunto descobriria que a educação sexual é parte da área transversal de educação para a saúde, que inclui por exemplo a prevenção de consumos de substâncias nocivas, a educação alimentar, etc, cujo programa é decidido em cada escola; que a apf é uma entre 3 associações que assinam regularmente protocolos com o ministério da educação, no sentido de efectuar acções de formação nas escolas, a professores e alunos -- as outras são o movimento de defesa da vida e a fundação comunidade contra a sida. e que a educação para a saúde está sem coordenação desde janeiro de 2003, e que o número de escolas que em dois inquéritos elaborados pelo ministério assumiram leccionar educação sexual anda em menos de 50%. e que, finalmente, devido à inexistência de coordenação e de investimento na área, não se sabe realmente que tipo de conteúdos estão a ser veiculados e como. ou, já agora, se a obrigatoriedade de veicular ensinamentos sobre educação sexual em todas as escolas está a ser cumprida e se não, porquê.

apesar destes desmentidos e interessantes revelações, o espesso voltava, uma semana depois, à carga, com um editorial sobre o assunto e uma coluna de henrique monteiro, a pegar no assunto nos termos do artigo referido, enquanto na mesma edição as jornalistas que assinaram a peça assinavam um esclarecimento, que confesso não ter lido e sobre o qual não posso portanto pronunciar-me.

na semana a seguir, continuaram as colunas de opinião sobre "o programa oficial de educação sexual".

Na quarta feira (ontem) o ministério exarou finalmente um comunicado sobre o assunto, em que acusa o espesso de ter feito uma notícia deturpada (ou coisa que o valha, não me lembro do termo exacto) e reitera a inexistência de um programa oficial de educação sexual, esclarecendo também que as imagens publicadas no espesso e a maioria dos exemplos pedagógicos citados são de livros espanhóis relacionados com o programa de educação sexual do governo das canárias, livros esses que não são utilizados em portugal nem fazem parte dos materiais recomendados pelo ministério.

exercício do dia: ver quantos media passam esta informação.

e, já agora, pensar como é fácil (e barato -- não sei é se dá milhões, é conforme) lançar uma campanha em portugal.

quem melhor para desinformar que quem tem o dever de informar? robert jr, és capaz de não ser completamente maluco.

f.
|| asl, 12:26

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