Leia-se um excerto ("O Militante", pág. 44): “É uma exigência da luta contra as omissões e falsificações da historiografia burguesa e, sobretudo, contra as tentativas da reacção e do imperialismo para, tirando partido das derrotas do socialismo na URSS e nos países do Leste da Europa, reescrever a História em função dos seus interesses e objectivos de exploração e domínio planetário”. Não está mal para quem esquece uns quantos factos básicos.
Depois, entra-se no domínio do “confronto ideológico” e causas da II Guerra Mundial “ e a sua natureza imperialista e anticomunista”. “(…) A URSS socialista, o Exército Vermelho e o povo soviético como factor determinante de vitória são questões tão importantes que a sua assimilação em termos de verdade histórica e do seu profundo conhecimento ideológico, é indispensável aos comunistas para as suas batalhas do presente”.
Albano Nunes lembra, com justiça, os 20 milhões de russos mortos durante a guerra (dos três aliados, a União Soviética foi o país que sofreu maior número de baixas), mas não recorda os milhares americanos mortos no desembarque da Normandia ou nas batalhas na França.
Os dois aliados da URSS são mencionados, sim, mas por outras razões. A Grã-Bretanha é referida por Albano Nunes quando recorda que “a escalada de Hitler [na Alemanha] só foi possível, primeiro com a complacência e a colaboração da Grã-Bretanha, França e outras democracias burguesas, e depois pela cobardia e traição das burguesias nacionais.”
À luz do "conhecimento ideológico" para as "as batalhas do presente" dos comunistas, os Estados Unidos são um mau exemplo - neste particular Mário Soares e outras esquerdas radicais mais suaves até estarão de acordo: "Há um sistemático recuo/alinhamento das democracias europeias diante da arrogância agressiva dos EUA" ("O Militante", pág. 2).
Porque assinalar os 60 anos do fim da II Guerra Mundial não é apenas uma efeméride. O texto de abertura do dossier esclarece "O Militante" : "Vivemos hoje uma situação que apresenta inquietantes similitudes com as que conduziram à II Guerra Mundial, com o imperialismo norte-americano e os sectores mais reaccionários do grande capital conduzindo uma violenta ofensiva de exploração, militarismo e guerra" ("O Militante", pág. 2).