não, não tou a falar da banda lá do camané e do david não sei quê e da rapariga de que não lembro o nome. é das campanhas políticas.
desta coisa da 'gente'. agora os publicitários que passam por experts destas coisas (quem será que os convenceu disso é que gostava de saber) resolveram que os candidatos ficam bem é fotografados no meio de gente normal, de preferência feiota e mal enjorcada (será para ver se eles ficam favorecidos na comparação? em alguns casos é manifestamente impossível).
muito risonhos, no meio da multidão indiferenciada, tipo 'olha eu também sou gente'.
quando falta a maçaroca ou quando se pensa que o candidato já é percepcionado como pessoa, fazem-se cartazes como aquele do josé sá fernandes, cuja saloiice dificilmente será ultrapassada. lisboa é gente? a sério? que lindo. até me veio uma lagrimita ao olho. (a sério: será que aquela gente que pensou -- sei que o termo cai mal aqui, mas vai-se a ver e alguém matutou mesmo naquilo, se calhar dias -- aquele cartaz não veio directamente dos anos sessenta, numa máquina do tempo?)
huston, we have a problem: ninguém sabe que mais inventar para promover políticos ou 'gente' para lugares políticos. é o privilégio de uma democracia madura: já gastaram os slogans todos, as composições gráficas, o pancake, o branqueador dental, as criancinhas (há ainda quem insista, claro), os velhinhos, as gajas boas, os gajos bons, os homens da mercearia, os operários, sei lá eu.
é que eu, por exemplo, com ou sem caracteres (e, concedo, talvez até sem carácter) quero é saber como é que quem promete tirar metade dos carros de lisboa se propõe fazê-lo. é que não houve nos últimos dez anos quem não dissesse o mesmo, mas lá praticá-lo, tá quieto.
ou como é que se impedem os carros de ocupar os passeios, se essa tarefa é da psp e a psp depende do ministério da administração interna e não da câmara. como é que vai ser na avenida da liberdade, quando nos fins de semana os saloios que vão ao hard rock cafe quiserem continuar a fazer parque de estacionamento do nosso único boulevard .
como é que vão funcionar os fundos de apoio à reabilitação -- agora são tão complicados e burocráticos e, garantiu-me alguém que se dedica a comprar prédios velhos, recuperá-los e vendê-los, tão corrompidos, que há muito quem, como eu e os meus vizinhos, prefira gastar uns bons milhares de euros do seu bolso para recuperar um prédio em zona histórica que esperar cem anos e algumas luvas por fundos que não se sabe se virão.
quero saber porque é que não há um jardim público em toda a zona da baixa (sim, é onde vivo, porquê?) e os poucos espaços livres, como a encosta entre o martim moniz e o hospital de s josé, estão já reservados a uma urbanização qualquer.
quero saber porque é que os ecopontos estão sempre nojentos e cheios de lixo orgânico e distam tanto uns dos outros que há quem, como eu, tenha de andar quase meio quilómetro albardada com a reciclagem. será porque acham que a malta deve é meter as cenas no carro e levá-las assim ao ecoponto, de preferência de luvas e fato-de-macaco plastificado?
quero saber porque é que a rua do ouro e a rua da prata são vias rápidas, em que não se pode apanhar um táxi ou um autocarro, e porque é que a minha amiga ana, que mora na rua da prata, quando veio do hospital de ter a laura, teve de andar desde a praça da figueira até casa, de camisa de noite e pernas afastadas por causa dos pontos, porque é proibido parar a meio de uma rua comercial do centro histórico. é assim que querem repovoar a baixa?
quero saber porque é quem usa saltos altos (e quem não usa também) tem de todos os dias arriscar a vida nos passeios de lisboa, eternamente esburacados e aos altos e baixos.
quero saber por que é que para mudar a cor de um prédio tem de se pedir autorização mas para cortar árvores centenárias de um jardim privado basta ter vontade.
porra, quero uma cidade. e se houver um candidato que faça isso, até pode ser um andróide. não faço questão nenhuma que seja gente, nem que tenha uma família linda, nem que se misture com o povo, nem que declame poemas do pablo neruda. quero lá saber.
f.