O que me espanta (enfim, não me espanta, mas adiante) na maior parte dos multiplos comentários ao 'post' "Tentam fazer-nos passar por parvos" é que respondem a coisas que eu não disse. Repito: não disse.
Não disse que Cunhal foi um democrata. Disse que combateu a ditadura - o que é diferente. E até fiz questão de referir que tinha tentado um "caminho totalitário" em Portugal - o que ninguém parece ter notado.
Não disse que Cunhal tinha sido o único a aplicar-se no combate à ditadura - disse que liderou esse processo. É uma verdade daquelas que não há volta a dar. Sob a liderança de Cunhal, o PCP tornou-se no organização melhor estruturada no combate permanente (diário, constante, persistente) à ditadura. Há milhares de pessoas que só aderiram ao PCP porque de facto, durante muito tempo, foi a única coisa que realmente existiu. Depois, é certo, foram saíndo - umas vezes a bem, muitas a mal -, ou por desgosto com a forma como combatiam a ditadura ou por desgosto por posições do PCP face aos horrores do Leste Europeu ou pelas duas coisas. Mas se saíram é porque estiveram lá dentro. E se estiveram lá dentro por alguma coisa foi.
Não disse que Soares tinha sido o único responsável pelo combate a Cunhal no pós 25 de Abril. Disse que tinha liderado essa luta - e aqui, mais uma vez, é das tais que não há volta a dar.
Disse, por outro lado, que na chamada direita democrática, não conheço ninguém que tenha tido um papel de relevo (liderante) tanto no combate ao Estado Novo como no combate a Cunhal, após o 25 de Abril. A história política do século XX português há-de registar quatro grandes nomes: Afonso Costa (pela I República), Salazar (pela ditadura), Cunhal (pelo combate à ditadura, pelo PREC e pelo seu papel relevantíssimo no Movimento Comunista Internacional) e Soares (por tudo). Lamento, mas não estou a ver aqui ninguém da direita democrática. Ou estou? Salazar?
(Amanhã há mais.)