Glória Fácil...

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terça-feira, junho 21

Tentam fazer-nos passar por parvos (conclusão, se calhar)

Infelizmente estive "inpostável" durante uma data de dias e não consegui concluir a minha resposta à polémica suscitada pelo post "Querem fazer-nos passar por parvos".

É certo, também, que toda a conversa parece já um pouco ultrapassada. Mas apetece-me ainda dizer umas coisinhas - mas pedindo desde já desculpas pela ausência de linques, devem-se somente a problemas técnicos do computador onde escrevo. Aí vai.

1. A subvalorização do papel de Cunhal no combate à ditadura conjugada com a sobrevalorização do que fez no pós 25 de Abril (e, sobretudo, do que poderia ter feito mas acabou por não fazer) pertencem ao núcleo duro do argumentário "complacente" (JPP dixit) para com o regime salazarista. A "complacência" passa também por argumentar - como RAF fez no Blasfémias -que o regime salazarista foi, apesar de tudo, menos mau quando comparado com o nazismo ou com o estalinismo. A isto chama-se relativismo. Que, se bem me lembro, era o pecado maior das esquerdas quando tentavam "compreender" o terrorismo. E agora, já não é pecado?

2. Surgiu outro argumento muito interessante, que li no João Miranda (Blasfémias, novamente) e no Nuno Gouveia (Virtualidades): o de eu ser "intolerante" para com os que não "expiaram o pecado" de serem politicamente descendentes de quem não foi relevante nem no combate a Salazar nem, depois do 25 de Abril, às tentações totalitárias. A questão não é "intolerância"; é mais falta de paciência. Todos temos a mesma legitimidade para dizermos o que nos apetece; mas nem todos temos a mesma autoridade. A questão é essa: autoridade.

3. Por outro lado, a mim, por defender a importância de Cunhal no combate à ditadura, atiraram-me logo com o KGB e o "Pravda" e o Laos e o Pol Pot e o "gulag" e o diabo a quatro - ainda para mais treslendo tudo o que escrevi. Se a direita portuguesa nascida (politicamente) no pós-25 de Abril não quer ser encostada ao que se passou antes, então que não passe a vida a encostar a esquerda portuguesa nascida no pós 25 de Abril a coisas pelas quais, pela mesma exacta razão (não eram nascidos), também não têm responsabilidades directas nenhumas.

4. Por último, o suposto "unanimismo" na "glorificação" de Cunhal. Eu não vi "unanimismo" nenhum: li Vasco Pulido Valente, António Barreto, ouvi Soares, ouvi José Ribeiro e Castro, li António Vilarigues (hoje, no PÚBLICO), enfim, consumi muito (como todos nós) do que se disse e escreveu sobre Cunhal nos últimos dias (inclusivamente as recuperações de documentos históricos, como aconteceu na RTP Memória). Vi opiniões de todas as formas, conteúdos e feitios. O argumento do "unanimismo" resulta de puro preconceito. Estava pré-agendado para ser utilizado, fosse qual fosse o teor do debate. E houve debate, felizmente houve. Sem unanimidade nenhuma, graças a Deus - ou a Cunhal, se preferirem.
|| JPH, 14:39

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