da primeira vez levei quase um dia.
estava na caixa geral de depósitos a falar com o meu gerente de conta e o gajo diz: um avião acertou nas torres gémeas. como? perguntei eu. porquê? acidente? atentado? não se sabe ainda, respondeu ele. ia a meio da rua augusta quando um amigo me ligou a contar do segundo avião. passei o dia de nariz colado ao écran, como toda a gente, a ver as mesmas imagens cem, duzentas, quinhentas vezes, em voyerismo estuporado.
só na manhã seguinte, quando acordei e liguei outra vez a televisão e vi outra vez as torres cair, me encontrei com aquelas imagens, naquelas imagens. só aí aquilo me aconteceu a mim. a mim. ao meu mundo. no meu mapa.
com atocha levou ainda mais tempo. dois meses, mais exactamente. era a segunda vez. parecia menos mentira, mas mais normal. foi preciso ir à estação, fazer do memorial improvisado os passos em volta, ler as cartas de amor dos namorados, dos amantes, das mulheres e dos maridos, dos pais, dos filhos, dos amigos. uma era de uma gata à dona de 17 anos. nunca te esquecerei, dizia a gata. diziam todas o mesmo: nunca te esquecerei. nunca vos esqueceremos.
lá em baixo, descidas as escadas de acesso à gare, os olhos secos no vento de milhares de velas descobriam a mesma promessa. impossível, ao lado a porta das partidas.
quanto mais tempo passa mais mentira nos parece, dizia uma das mensagens.
não sei como está, um ano depois, a estação de atocha. o que aconteceu às mensagens, às velas, aos ursos de peluche, às flores. se quem passa ainda pára. se quem chega ainda abranda a pressa, ainda empurra o nó das lágrimas para longe, para dentro, como quem esconde uma vergonha. a vergonha de só então saber, de só então ter acontecido.
não sei nada de londres.
ainda não me aconteceu. ainda não é verdade.
f.
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