Glória Fácil...

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segunda-feira, julho 18

Liberais e bailarinas

É claro que o ballet Gulbenkian não é indispensável. Na verdade, seguindo a visão liberal, nada na produção cultural é indispensável. Se o mercadinho não premiou, então que se lixe. O liberalismo, visto assim, é a ideologia do conformismo. Aliás, prova disso, é que nos blogues que se arvoram do liberalismo não se leu uma palavrinha de jeito sobre a matéria. Contrangimento ou indiferença? Inclino-me mais para a segunda hipótese.

Ora acontece que eu sempre vi os liberais deste país besuntarem a Gulbenkian de elogios. Cada vez que se falava da subsídio-dependência estimulada pelo Estado, vinha logo a seguir o grande elogio à fundação do velho arménio como instituição rigorosamente privada, totalmente independente dos dinheiros do Estado (dos “contribuintes”) que era capaz de produzir bens culturais (e científicos) de altíssimo calibre. A Gulbenkian provava a incompetência do Estado. E nem valia a pena tentar argumentar que a fundação tem ao seu dispor meios com que o Estado português nunca sonhou nem poderá sonhar.

Mas agora a Fundação fechou a sua companhia de dança. Os liberais encolhem os ombros: é o mercado e siga a Marinha. Mas se, entretanto, aparece alguém (no caso, Santana Lopes) a dizer que quer resolver o problema, então sim é um ai Jesus, aí vem a malandragem do Estado a querer “distorcer o mercado” metendo a sua imunda patorra onde não é chamado.

Evidentemente, não elogio Santana. A proposta que fez para este problema é – como outras anteriores (Parque Mayer, Túnel do Marques) – nada mais é do que simplesmente megalomana. Orçamentalmente, a CML não tem onde cair morta. Tem – ou deveria ter - milhentas outras prioridades à frente.

Portanto, a solução não é o Estado, admito-o perfeitamente. A solução são os privados. Não faltam neste país instituições riquíssimas para quem o ballet Gulbenkian poderia ser uma agradável peninha no chapéu. Fundações ou grupos bancários ou outros grupos económicos, o que fosse. Se o liberalismo fosse para levar a sério, isto já tinha acontecido.

Mas não. Desgraçamente, até agora nenhum “agente económico” se chegou à frente. Bailarinas sim. Mas só agarradas ao varão.
|| JPH, 19:00

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