Em 1948, Gore Vidal publicou "A Cidade e o Pilar", uma novela sobre o amor homossexual. Mandou um exemplar ao seu venerado e já velho Thomas Mann, que lhe respondeu com uma simpatia banal, trocando-lhe o nome. "A Cidade e o Pilar" torna-se um "best-seller" mas Vidal, que a América tinha na boa conta de soldado cumpridor, numa besta célere.
Anos mais tarde, ficará a saber pelo biógrafo de Thomas Mann que a leitura de "A Cidade..." impulsionou Mann a retomar "Felix Krull", último romance iniciado na juventude.
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Sábado, fim de tarde, 25.10.50
Será possível começar de novo Felix Krull? Conheçoo suficiente do mundo, há gente suficiente, há conhecimento suficiente? O romance homossexual interessa-me não só pela experiência do mundo como pela viagem que oferece. O meu isolamento consegue apanhar experiência suficiente dos seres humanos, bastante para um romance sócio-satírico?
Domingo, 26.10.50
Ocupado com os papéis, confuso.
Continuei a ler o romance de Vidal.
Quarta, 29.10.50
Os papéis Krull (sobre a prisão). Sempre com dúvidas. Pergunto-me se esta música determinada por um "tema apaixonante" é apropriada aos meus ouvidos... Terminei o romance de Vidal, comovido, embora seja um pouco imperfeito e desagradável. Por exemplo, quando Jim leva Bob a um bar de homossexuais em Nova Iorque."
[Do diário de Mann citado por Gore Vidal no prefácio de "A Cidade e o Pilar", D. Quixote]