Dei por mim a pensar, hoje de manhã - seriam umas 11h10/11h15, mais coisa menos coisa -, que o cenário Cavaco "versus" Soares nas próximas eleições presidenciais é mesmo o pior que podia ter acontecido a Jorge Sampaio e ao seu lugar na história como Presidente da República.
E isto porque, ganhe quem ganhar, a verdade é que, depois, Sampaio ficará sempre como um Presidente de transição. Alguém que se limitou a percorrer ou o intervalo do cavaquismo (se Cavaco ganhar) ou o intervalo do soarismo (se for Soares). Não deve ser agradável viver com esta perspectiva.
Por mim, é bem merecido. Tenho consideração política pelo percurso histórico de Jorge Sampaio. Agrada-me a independência desprendida que sempre revelou tanto em relação à extrema-esquerda clássica (trotsquistas, maoistas, estalinistas, leninistas, etc), como em relação ao PCP (e a coligação em Lisboa não o nega, pelo contrário, confirma-o) ou em ainda em face ao PS clássico, republicano, laico, maçónico, o PS herdeiro directo de Afonso Costa e que tem hoje em Soares, novamente - depois da fase do "socialismo na gaveta" - a sua figura máxima de referência.
Mas os últimos tempos do seu mandato, da demissão de Durão às eleições antecipadas de Fevereiro passado, foram maus de mais para ser verdade. Não convocou eleições quando Durão partiu para Bruxelas - e tinha a melhor razão de todas para o fazer, a quebra de um compromisso central do partido vencedor com o país; e convocou quando não o devia ter feito, porque nenhuma dissolução pode ser levada a cabo só porque o primeiro-ministro é incompetente. Abriu-se um precedente complicadíssimo, direi mais, gravíssimo.
Espero, sinceramente, que esta questão seja central nas próximas presidenciais. Não tanto saber se Sampaio fez bem ou mal - é irrelevante, agora - mas saber o que fariam Cavaco ou Soares numa situação semelhante. E darem respostas claras e firmarem compromissos para o futuro. Se não existirem, contem com mais uma abstenção: a minha.