Glória Fácil...

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sexta-feira, agosto 26

A puta da realidade

Leio por aqui e por ali, pela blogosfera fora (aquela que leio), nos posts, nas caixas de comentários, nos correios dos leitores, inúmeras referências que revelam exaustão em relação à cobertura dos incêndios - e, como sempre, o bombo (principal, mas não único) da festa são as televisões.

Estão fartas, as pessoas. Já não há paciência: o "popular" desesperado com o fogo; o bombeiro que se queixa da "falta de meios"; o ministro que diz isto e mais aquilo e mais aqueleoutro, sabe-se lá o quê, ninguém verdadeiramente o registou porque ninguém verdadeiramente está disposto a ouvi-lo; o Presidente da República que volta a invocar, pela enésima vez, a porcaria dos "desígnios nacionais" - expondo assim a sua triste impotência, para não dizer total dispensabilidade.

De todos os comentários que já li pela blogosfera fora, nem um único disse algo tão simples como isto: O problema essencial não é que se lê (ou não se lê) nos jornais, o que se ouve (ou não se ouve) nas rádios, o que se vê (ou não se vê) nas televisões. O problema essencial é mesmo a puta da realidade. E saber que, a não ser que chova (muito), para o ano tudo se repetirá, igualzinho, ponto por ponto, dia a dia, hora a hora. A puta realidade, volto a dizer.

Para o Governo (este ou outro qualquer), nada mais conveniente. Enquanto gastamos a nossa capacidade de indignação contra os mensageiros (a famosa "cobertura mediática"), não a gastamos contra a mensagem (os factos, a tal da puta da realidade). Não tarda nada há-de fazer caminho a proposta de não se transmitirem nas televisões os incêndios (Louçã lançou-a, António Costa deu-lhe eco, agora já vai no director da PJ). Boa ideia: é melhor é não falar na crise da Bolsa para não a agravar; ou no défice, para não o agravar; ou na miséria, para não a agravar; ou no "mensalão", para evitar que nos atinga.

Alienado é tanto um político que sugere às televisões que não filmem como um espectador que não percebe que o problema (principal) não é do jornalismo, é do facto em si mesmo. Estão um para outro. Merecem-se.
|| JPH, 16:09

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