há quem estranhe, e muito bem, que a maioria das notícias sobre a manif anti-gay de sábado tenha ignorado a mistura entre as noções de homossexualidade e pedofilia (será porque para a maioria dos repórteres que estiveram a fazer a cobertura da manif a confusão até faz sentido, ou porque a acharam tão ridícula que lhes pareceu inútil realçá-la?)
eu junto outra estranheza: a de, aparentemente, saudações nazi/fascistas serem tão banais que só mereceram, na maioria dos textos que li, uma anotação de fugida.
nada de especial, de facto. se exceptuarmos o facto de a constituição, no artigo 46º número 4, proibir as organizações que perfilhem a ideologia fascista.
ou de não ser muito difícil descobrir, mesmo a quem não use ler livros (façam uma pesquisa na internet, por exemplo, vão ver que não custa nada), o que os nazis faziam aos homossexuais. uma pista: era o mesmo que faziam aos judeus.
não era preciso, portanto, que houvesse gritos de 'morte aos paneleiros' -- os tais que só houve um, dizem alguns repórteres, prontamente abafado pela 'organização'. a saudação nazi diz isso e muito mais.
ignorá-la ou desconsiderá-la é uma forma particularmente grave de cegueira dirigida -- do género, já não se usa fazer escândalo com este anacronismo.
gostava de saber para que tipo de indignidades guarda esta gente a sua indignação, que tipo de nojo os enoja.
gostava de saber se, por exemplo, aos jornalistas que com sanha persecutória e acrítica se lançaram na onda do processo casa pia e lhe chamaram da 'pedofilia', os tais que nunca se deram ao trabalho de perceber o que a palavra quer dizer e que não há nenhum crime com esse nome no código penal, os tais que cunharam a expressão 'pedofilia homossexual', parece demasiado longínquo e irreal e irrelevante o regime em que se fez da queima de crianças um negócio em série.
se calhar vamos ter de distribuir por aí uns milhares de exemplares do diário de anne frank. é que a história, ao contrário do que disse o outro, está longe de ter acabado