quando leio notícias como a do incêndio na barraca que matou a mãe guineense e os cinco filhos, há sempre informação que me falta. falta-me saber exactamente porque é que aquela mãe e aqueles cinco filhos viviam naquela barraca e porque é que vivem em barracas como aquela naquele sítio e em outros sítios como aquele mais umas centenas de mães e pais com as respectivas proles.
porque ainda não tinham sido realojados, dizem as notícias.
nem vale a pena esperar que não me interpretem mal pelo que vou escrever, mas eu escrevo na mesma: não foi isso que perguntei. o que eu queria saber era, precisamente, se não havia outra hipótese. se era mesmo forçoso que aquela mãe e aqueles cinco filhos vivessem naquela barraca, como vivem em barracas como aquela centenas ou até milhares de outras mães.
a tragédia não deixa de ser tragédia por se responder a essa pergunta -- mas nunca ninguém a quer fazer. como se nunca morressem pessoas queimadas em apartamentos pagos por elas e isso não fosse o fim do mundo na mesma.
só uma vez por outra gostava que me poupassem da porra do simbolismo e da porra dos simplismos. só uma vez por outra podiam surpreender-me